Europa fica de fora de encontro Trump-Putin sobre a guerra na Ucrânia

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Na próxima sexta-feira, Donald Trump e Vladimir Putin se reúnem no Alasca para discutir possíveis caminhos para encerrar a guerra na Ucrânia. O formato bilateral, proposto pelo Kremlin e aceito pela Casa Branca, não prevê assentos para líderes europeus e, até o momento, não garante a presença do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky. A exclusão inquieta as capitais do continente, que temem decisões sobre fronteiras e concessões territoriais sem a participação direta dos países mais afetados pelo conflito.

A possibilidade de cessões de território dominou as discussões que antecedem o encontro. Zelensky insiste que não aceitará a perda de áreas ocupadas nem o congelamento da linha de frente atual, argumentando que concessões apenas acelerariam a ofensiva russa, em curso há três anos e meio. Trump, por sua vez, declara ter a intenção de “recuperar território para a Ucrânia”, mas não detalhou sua proposta. Diplomatas europeus receiam que Moscou apresente demandas consideradas inaceitáveis por Kiev, enquanto Washington busca um entendimento rápido.

“Preparem-se para exigências russas bastante ousadas”, alertou Simon McDonald, ex-chefe do Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido. Para analistas em Bruxelas, Putin pretende usar a reunião para obter alívio nas sanções e exibir proximidade com o líder norte-americano. A chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, questiona qual seria o critério de sucesso dos Estados Unidos. Segundo ela, a presença de Zelensky tornaria o processo mais legítimo, mas, sem ele, faltaria contraponto às propostas russas.

Trump indicou publicamente que Zelensky “poderia ir” ao Alasca, porém não confirmou o convite. Kiev e as chancelarias europeias pressionam para transformar o “talvez” em confirmação formal. O desconforto aumentou porque a ideia de um encontro restrito partiu de Moscou e foi prontamente acolhida por Washington, isolando parceiros tradicionais dos EUA em questões de segurança continental.

Na segunda-feira, Kallas reuniu virtualmente ministros das Relações Exteriores da União Europeia para alinhar uma mensagem comum. O bloco defendeu um cessar-fogo incondicional como pré-requisito a qualquer acordo e anunciou novas sanções contra Moscou. A movimentação mostra o empenho europeu em permanecer relevante, mesmo sem convite oficial para a mesa principal.

Desde que Trump reassumiu a Presidência, em janeiro, o esforço continental para entrar no processo não surtiu efeito. O encarregado norte-americano para assuntos ucranianos, Keith Kellogg, declarara que a participação da UE não estava nos planos, posição que se mantém. Ainda assim, líderes europeus elevaram gastos em defesa e buscam interlocução direta com Washington. O chanceler polonês, Radoslaw Sikorski, descreve a guerra como questão existencial para a segurança da Europa e afirma que o continente tomará decisões próprias caso o acordo ignore seus interesses.

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Imagem: bbc.com

Na tentativa de influenciar a agenda, o chanceler alemão Friedrich Merz organizou para quarta-feira uma videoconferência entre chefes de governo europeus, Zelensky e Trump. O objetivo é ser consultado sobre qualquer proposta de paz antes do encontro de sexta. Contudo, veteranos da diplomacia britânica consideram improvável que a UE receba convite de última hora para participar presencialmente no Alasca. Para Simon McDonald, “o fim será tão prolongado quanto a guerra tem sido”, e a reunião bilateral representa apenas um marco, sem garantia de avanços concretos.

Enquanto isso, unidades russas e ucranianas continuam combatendo ao longo de quase mil quilômetros de frente. A eventual definição de uma linha de cessar-fogo ou a troca de territórios afetaria diretamente a população de regiões ocupadas, hoje sujeita a bombardeios e deslocamentos forçados. Sem voz no encontro de Anchorage, líderes europeus concentram-se em reforçar apoio militar e financeiro a Kiev, temendo que qualquer acordo que legitime conquistas obtidas pela força incentive agressões semelhantes em outras partes do mundo.

A reunião de sexta-feira pode determinar o rumo de um conflito que já provocou milhares de mortes e redesenhou o equilíbrio geopolítico do continente. Ainda assim, permanece incerta a participação do principal interessado: a própria Ucrânia. Até que a Casa Branca confirme um lugar para Zelensky à mesa, Europa e Kiev seguirão pressionando para transformar o diálogo bilateral em negociação multilateral, na tentativa de garantir que nenhum acordo seja concluído sobre a Ucrânia sem a presença da Ucrânia.

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