Colonos israelenses ampliam pressão e provocam êxodo de palestinos na Cisjordânia

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Grupos de colonos judeus estão acelerando a expansão de assentamentos no sul da Cisjordânia ocupada, intensificando a retirada de comunidades palestinas e elevando os confrontos na região desde os ataques do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023. No terreno, líderes comunitários como Meir Simcha, que atua ao sul de Hebron, relatam avanços sobre colinas e vales antes usados por produtores palestinos, enquanto organismos internacionais denunciam um padrão sistemático de violência e deslocamento forçado.

Simcha comanda um núcleo de colonos que transformou três pontos elevados em moradias permanentes, hoje habitadas por cerca de 200 pessoas, número que dobra o contingente inicial existente quando o conflito em Gaza começou. Sentado à sombra de uma figueira próxima a uma nascente, ele afirma que os agricultores árabes “perderam a esperança” de permanecer no local e sustenta que a área foi destinada por Deus aos judeus. A declaração converge com a postura de alas ultranacionalistas do governo israelense, que enxergam na atual guerra um momento oportuno para consolidar controle territorial.

Embora a atenção mundial esteja voltada à Faixa de Gaza, a tensão na Cisjordânia alcança níveis não vistos em anos. Dados do Escritório das Nações Unidas para Assuntos Humanitários (Ocha) indicam média de quatro ataques diários de colonos contra palestinos desde outubro de 2023. Ao mesmo tempo, ONGs de direitos humanos acusam as forças de segurança israelenses de não proteger moradores palestinos – e, em alguns casos, de participar das agressões.

A Corte Internacional de Justiça já emitiu parecer consultivo classificando como ilegal toda a ocupação de territórios conquistados por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967. Israel rejeita o entendimento e sustenta que as Convenções de Genebra, que proíbem assentamentos em áreas ocupadas, não se aplicam ao caso; posição contestada por diversos aliados do país.

No plano interno, ministros ligados ao movimento Religioso Sionista, como Bezalel Smotrich (Finanças) e Itamar Ben Gvir (Segurança Nacional), reforçam suporte logístico e político aos colonos. Em abril, Smotrich entregou 19 veículos off-road a residentes de um posto avançado recentemente “regularizado” nas colinas de Hebron, elogiando o grupo por “tomar grandes extensões de terra”. A legalização de postos considerados ilegais pela própria legislação israelense tem sido crescente, com liberação de verbas públicas para infraestrutura.

Cerca de 700 mil israelenses vivem hoje na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. Nas últimas três décadas, rodovias exclusivas, túneis e conjuntos residenciais transformaram a paisagem, fragmentando vilarejos palestinos e restringindo o acesso a olivais e pastagens. Agricultores relatam necessidade de permissões militares para visitar suas terras, às vezes autorizadas apenas uma vez por ano. Em regiões como o corredor entre Shiloh e Nablus, antigas fazendas agora exibem construções improvisadas de colonos ligadas por estradas patrulhadas.

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Imagem: bbc.com

Grupos de vigilância apontam que a fronteira entre Exército e colonos se tornou difusa. A mobilização prolongada de reservistas para a guerra em Gaza levou brigadas estacionadas na Cisjordânia a recrutar residentes de assentamentos como integrantes de unidades regionais. Ativistas como Yehuda Shaul, ex-combatente israelense e fundador da organização Breaking the Silence, afirmam que colonos armados passaram a vestir fardas e comandar operações locais, aumentando o temor de despejo imediato entre famílias palestinas.

A escalada já resultou em mortes. Em 28 de julho, o colono Yinon Levi – sancionado por Reino Unido e União Europeia por violência contra palestinos – matou o jornalista e ativista Odeh Hathaleen em Umm al-Khair. Levi alegou legítima defesa e foi liberado após três dias de prisão domiciliar. A residência da vítima exibe ainda manchas de sangue seco, conforme relato de parentes.

Para a ONU, intimidar moradores, destruir meios de subsistência e bloquear acesso a água e pastagens configura padrão de violações de direitos humanos que ameaça a segurança alimentar palestina. Em comunicado de 24 de julho, um painel de especialistas alertou para deslocamentos forçados recorrentes, sobretudo em áreas rurais onde pecuaristas dependem de amplos pastos.

Enquanto o governo israelense reforça a presença civil e militar nos territórios, vozes opositoras dentro de Israel alertam para dois cenários possíveis: a manutenção de políticas que conduzam a transferências populacionais em larga escala ou a negociação de um acordo de dois Estados. Por ora, líderes como Simcha consideram que o “período de milagres” abriu caminho para consolidar domínio judaico definitivo sobre a Cisjordânia, prolongando um impasse territorial que se arrasta há quase seis décadas.

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