O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou que indivíduos em situação de rua devem ser removidos “imediatamente” de Washington, capital do país, ao mesmo tempo em que anunciou um conjunto de medidas para conter a criminalidade na cidade. A intervenção inclui o envio de centenas de agentes federais e a possibilidade de mobilizar a Guarda Nacional.
A mensagem foi publicada na rede social utilizada pelo chefe do Executivo no domingo (data local). No texto, Trump afirmou que serão oferecidas acomodações fora da área central, porém “longe do Capitólio”, e destacou que pessoas acusadas de crimes seriam detidas. Sem detalhar como o deslocamento ocorrerá, o presidente indicou que não pretende adotar postura branda no processo.
As ações federais seguem ordem assinada em maio que facilita a detenção de pessoas em situação de rua em propriedades sob controle do governo. Na última sexta-feira, Trump determinou o envio de equipes do Serviço de Parques, do Departamento Antidrogas (DEA), do FBI e do Serviço de Delegados Federais (Marshals) às ruas da capital.
Segundo informação repassada por um funcionário do governo a emissora pública norte-americana, cerca de 450 agentes adicionais atuaram na noite de sábado. Fontes da imprensa local também relataram que o Executivo analisa a convocação de militares da Guarda Nacional, embora ainda não exista decisão formal sobre esse passo.
O presidente pretende apresentar detalhes das iniciativas em entrevista marcada para segunda-feira, às 10h (horário de Washington). Ele promete tornar a cidade “mais segura e mais bonita do que jamais foi”, com foco no combate a homicídios, assaltos e furtos de veículos, além de mudanças na paisagem urbana.
A prefeita do Distrito de Colúmbia, Muriel Bowser, reagiu às declarações. De acordo com a gestora municipal, não há registro de aumento recente da violência. Bowser reconheceu que 2023 registrou alta nos indicadores, mas afirmou que, nos últimos dois anos, as autoridades locais reduziram os números a patamares considerados os mais baixos em três décadas quando observado o conjunto de crimes violentos, incluindo roubos, agressões e sequestros relâmpago.
Ainda assim, a taxa de homicídios permanece elevada em termos proporcionais. Até o momento, 98 assassinatos foram contabilizados em 2024, dado que mantém a cidade entre as capitais com maior índice por habitante no país. Também preocupa o número de tentativas de roubo de carros, como o caso recente de ataque a um ex-funcionário de 19 anos do Departamento de Eficiência Governamental, episódio usado pelo presidente para ilustrar a situação.
Outra divergência envolve a descrição da capital feita por auxiliares da Casa Branca, que compararam Washington a Bagdá, no Iraque, durante um conflito. A prefeita classificou a analogia como exagerada e incorreta.

Imagem: bbc.com
Washington tem cerca de 700 mil moradores, dos quais 3.782 são considerados pessoas em situação de rua em qualquer noite, de acordo com organização que trabalha no atendimento ao grupo. A maioria ocupa abrigos públicos ou moradias temporárias; aproximadamente 800 vivem nas ruas.
Como distrito federal, e não estado, a cidade está sujeita a supervisão legislativa do Congresso. O presidente possui autoridade direta sobre terrenos e edifícios federais e, em determinadas circunstâncias, pode assumir responsabilidades adicionais. Trump mencionou a intenção de controlar o Departamento de Polícia Metropolitana, possibilidade que a prefeita contestou ao afirmar que as condições previstas em lei para tal intervenção não se aplicam no momento.
Em discurso de 2022, o mandatário já havia sugerido a construção de estruturas provisórias “de alta qualidade” em áreas de baixo custo fora dos centros urbanos para realocar populações de rua, com acesso a banheiros e serviços médicos. Até agora, não foram apresentados detalhes operacionais nem cronograma para implantação desse modelo.
A administração Trump trava disputas semelhantes com outras cidades governadas por democratas. Neste ano, por exemplo, houve confronto judicial com a prefeitura de Los Angeles após o envio de milhares de membros da Guarda Nacional para enfrentar protestos ligados a ações de imigração. O caso deve ser analisado por tribunal federal na Califórnia nesta segunda-feira.
A expectativa é que a nova coletiva na Casa Branca apresente metas de redução de crime, estratégias de revitalização de áreas públicas e eventual plano de realocação dos sem-teto. Até o pronunciamento presidencial, agentes federais continuam nas ruas de Washington em apoio às forças locais.