Responsável por um dos bordões mais reconhecidos do esporte, o argentino Andrés Cantor acumula 38 anos de carreira como narrador de futebol e volta a ser destaque antes da Copa do Mundo de 2026, que será disputada em Canadá, Estados Unidos e México. Em entrevista recente, ele comentou a origem e a duração do famoso grito de gol, relembrou momentos marcantes de sua trajetória e avaliou o crescimento do futebol nos Estados Unidos desde 1994.
Cantor explicou que nunca controlou o tempo exato de sua exclamação, ainda que o apresentador Bob Costas tenha cronometrado 44 segundos em uma transmissão. Em uma ação promocional recente, torcedores chegaram a gritar “Gooooool” por 39 segundos, mas, segundo o narrador, sustentar a palavra sem pausa é ainda mais difícil do que durante um lance real. Para ele, a extensão depende apenas da emoção gerada em campo e do fôlego disponível após o relato da jogada.
Para manter a voz apta em grandes torneios, Cantor recorre a uma fonoaudióloga nos meses anteriores às Copas. Apesar disso, admite que, em meio à adrenalina de partidas decisivas, nem sempre consegue aplicar todas as técnicas recomendadas. O aquecimento vocal, porém, é rotina indispensável. Ele também destaca a importância do descanso, especialmente quando a cobertura envolve grandes deslocamentos. Na Copa de 2018, na Rússia, pegou 36 ou 37 voos nos primeiros 23 dias por falta de conexões diretas entre as sedes, situação oposta à do Catar em 2022, quando permaneceu hospedado no mesmo local durante todo o campeonato.
O próximo Mundial, com 48 seleções e 104 jogos, foi denominado por Cantor como “Double XL World Cup”. Ele recordou a edição de 1994, realizada nos Estados Unidos, que classificou como divisor de águas para o esporte no país. Dois anos depois surgiu a Major League Soccer (MLS), hoje com 30 clubes. Para o narrador, o futebol norte-americano não depende mais de um evento único para prosperar, mas a competição de 2026 deve atrair novos torcedores, latinos e não latinos, consolidando o que descreve como “festa gigantesca”.
Ao comparar culturas futebolísticas, Cantor observa que o público dos EUA costuma enxergar o estádio como local de entretenimento, enquanto na América Latina a paixão envolve música, dança e celebrações mais efusivas. Ele acredita que essa energia latina pode influenciar a seleção dos EUA, agora sob o comando de Mauricio Pochettino, técnico que, segundo ele, tenta transmitir mentalidade mais aguerrida aos atletas que atuam na Europa.

Imagem: foxsports.com
Entre as lembranças pessoais, o narrador aponta três momentos marcantes ligados à Argentina. Como torcedor, cita o primeiro título mundial do país, conquistado em 1978, quando ainda era adolescente e assistiu a todas as partidas no estádio. Como profissional, destaca a Copa de 1986: a vitória sobre a Inglaterra com o célebre gol de Diego Maradona após arrancada de 65 metros e, dias depois, o bicampeonato em solo mexicano. Acrescenta ainda o pênalti convertido por Gonzalo Montiel em 2022, que selou o tricampeonato, como um dos lances mais carregados de emoção que já narrou.
Fora do contexto argentino, Cantor menciona dois gols que considera inesquecíveis para a história do futebol mundial. O primeiro é o de Landon Donovan, diante da Argélia, na Copa de 2010, que garantiu classificação dos Estados Unidos às oitavas. O segundo ocorreu na final da Copa do Mundo Feminina de 2015, quando Carli Lloyd marcou do meio-campo contra o Japão, terceiro gol de seu hat-trick e, segundo o narrador, um dos mais belos já vistos em qualquer torneio da FIFA.
Na contagem regressiva para 2026, Cantor acredita que o torneio oferecerá uma vitrine sem precedentes para o futebol no continente. Ele ressalta que a combinação de infraestrutura norte-americana com a paixão das comunidades latinas deve criar ambiente singular. Aos 60 anos, o dono do grito mais famoso do esporte afirma estar pronto para repetir o ritual que o tornou mundialmente conhecido, independentemente de quanto tempo dure cada “Gooooool”.