Crescimento econômico do Reino Unido perde ritmo no segundo trimestre, mas supera previsões

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O Produto Interno Bruto (PIB) do Reino Unido avançou 0,3% entre abril e junho, informou o Escritório Nacional de Estatísticas (ONS). O resultado representa desaceleração em relação ao primeiro trimestre, quando a expansão foi de 0,7%, porém superou a expectativa de vários analistas, que projetavam alta de cerca de 0,1% — patamar considerado próximo à estagnação.

O setor de serviços foi o principal responsável pelo desempenho, enquanto a construção também contribuiu de forma relevante ao crescer 1,2% no período. Indústria e agricultura apresentaram variações mais modestas. O governo britânico estabeleceu a aceleração do crescimento como prioridade e, diante do número acima das estimativas, classificou o resultado como sinal encorajador, embora admita a necessidade de avanços adicionais para impulsionar a renda da população.

A divulgação reacendeu o debate político interno. A chancelaria do Tesouro destacou que a economia parecia “travada” há muito tempo e avaliou os novos dados como positivos. Já a oposição conservadora atribuiu o desempenho a políticas que classificou como prejudiciais, enquanto representantes liberais-democratas afirmaram que o ritmo ainda é lento. Mesmo com diferenças de diagnóstico, todas as correntes citam o crescimento como tema central das próximas decisões orçamentárias.

Os números mensais revisados também trouxeram ajustes importantes. O ONS alterou a estimativa para abril, reduzindo a contração inicialmente reportada de 0,3% para 0,1%. Para junho, os dados indicaram resultado melhor que o projetado, reforçando o saldo trimestral positivo. Após as revisões, o banco americano Goldman Sachs aumentou sua projeção de crescimento anual do Reino Unido de 1,2% para 1,4%.

Apesar do resultado favorável, analistas apontam fatores que podem limitar a expansão no curto prazo. A consultoria Capital Economics ressalta que a economia global fraca tende a afetar as exportações britânicas e que aumentos de impostos aprovados em abril ainda não foram totalmente sentidos nos investimentos. A expectativa de novos ajustes tributários no Orçamento de outono também é apontada como motivo para consumidores e empresas manterem cautela.

Dados detalhados do ONS mostram que o investimento empresarial recuou 4% no segundo trimestre, após ter registrado alta de 3,9% nos três primeiros meses do ano. O consumo das famílias apresentou leve retração, evidenciando que pressões sobre o poder de compra persistem, mesmo com a recente queda nos custos de financiamento.

Economistas do ING argumentam que o crescimento de 0,7% no primeiro trimestre foi parcialmente inflado por fatores extraordinários, como antecipação de compras para evitar eventuais tarifas comerciais dos Estados Unidos e uma corrida de compradores de imóveis antes da mudança na alíquota do imposto de selo. Esses efeitos desapareceram, mas o avanço de 0,3% ainda é visto por parte do mercado como resultado sólido em um ambiente internacional incerto.

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Imagem: bbc.com

Condições climáticas favoráveis também influenciaram o desempenho. Um período incomum de sol e tempo seco entre maio e junho impulsionou obras e reformas, estimulando o segmento de construção. Proprietários de estabelecimentos de lazer relatam melhora no movimento, atribuindo o incremento de fluxo à combinação de clima agradável e maior confiança dos consumidores.

O empresário Iain Hoskins, que mantém casas de entretenimento em Liverpool, afirmou que os custos subiram após o último orçamento, principalmente devido à elevação das contribuições para a Previdência, mas relatou sentimento mais otimista nos últimos meses. Para ele, a redução gradual dos juros — fixados atualmente em 4%, após cinco cortes do Banco da Inglaterra nos últimos 12 meses — contribuiu para liberar renda disponível e sustentar o consumo.

Com a taxa básica no menor nível em dois anos, o banco central sinaliza intenção de continuidade na política de estímulo, embora mantenha atenção aos indicadores de inflação. Especialistas avaliam que novos cortes podem ocorrer se a recuperação apresentar sinais de perda de fôlego, mas uma expansão acima do previsto, como a registrada, reduz a pressão por afrouxamento adicional imediato.

Para o terceiro trimestre, instituições financeiras divergem quanto ao ritmo de crescimento. Enquanto algumas casas projetam manutenção em torno de 0,3%, outras preveem ligeira desaceleração sob efeito da atividade global enfraquecida e da transição dos incentivos fiscais. O consenso, contudo, é que o desempenho britânico no primeiro semestre foi melhor que o imaginado no início do ano, abrindo margem para ajustes nas expectativas de 2024.

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