O ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, afirmou nesta terça-feira que irá autorizar a edificação de 3.401 unidades habitacionais na região conhecida como E1, situada entre Jerusalém e o assentamento de Maale Adumim, na Cisjordânia ocupada. Segundo o ministro, a iniciativa tem como objetivo impedir o estabelecimento de um futuro Estado palestino ao consolidar a continuidade territorial israelense na área.
O anúncio foi feito em coletiva de imprensa ao lado do presidente do Conselho Yesha, Israel Ganz, e do prefeito de Maale Adumim, Guy Yifrach. Smotrich declarou que o terreno “foi destinado aos judeus” e classificou o empreendimento como uma ação para “conectar Maale Adumim a Jerusalém”, encerrando duas décadas de congelamento do projeto.
O plano E1 é fonte de forte controvérsia desde os anos 1990. A maioria da comunidade internacional considera os assentamentos na Cisjordânia ilegais à luz da Convenção de Genebra, posição reforçada por parecer consultivo da Corte Internacional de Justiça emitido em 2023. Israel contesta essa interpretação e sustenta que o status final do território deve ser definido em negociações.
Se concretizada, a expansão imobiliária bloqueará a formação de um corredor urbano palestino contínuo entre Ramallah, Jerusalém Oriental e Belém, fragmentando a Cisjordânia ao norte e ao sul da capital. Diplomatas e analistas avaliam que a construção inviabilizaria, na prática, a viabilidade territorial de um Estado palestino independente.
Organizações israelenses contrárias aos assentamentos, como a Peace Now, estimam que cerca de 700 mil colonos vivem atualmente em 160 assentamentos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. Para o grupo, a decisão do governo de Benjamin Netanyahu “aprofunda a anexação de fato” do território e prolonga o conflito. Em nota, a ONG afirmou que a única alternativa para encerrar a violência seria a criação de um Estado palestino ao lado de Israel.
O Ministério das Relações Exteriores da Autoridade Palestina reagiu ao anúncio descrevendo-o como “continuação de crimes de genocídio, deslocamento e anexação”. O órgão sustentou que a medida amplia o controle israelense sobre terras palestinas e dificulta qualquer solução negociada.
A decisão de Smotrich ocorre em meio a declarações recentes de países europeus, como Reino Unido e França, sobre a possibilidade de reconhecer formalmente um Estado da Palestina nos próximos meses. Questionado sobre o impacto dessa perspectiva, o ministro respondeu que não haverá um Estado a ser reconhecido, reiterando a posição do governo israelense de rejeitar uma iniciativa unilateral nesse sentido.

Imagem: bbc.com
Smotrich, integrante da ala ultranacionalista do gabinete, e o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, foram alvos de sanções britânicas em junho por estímulo repetido à violência contra comunidades palestinas na Cisjordânia. Desde o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, medidas de segurança israelenses na região se intensificaram, incluindo barreiras viárias, detenções e operações militares, ação justificada pelas autoridades como necessária para prevenir novos atentados.
O congelamento de duas décadas sobre o projeto E1 resultou de pressão diplomática de sucessivos governos norte-americanos e europeus, que alertavam para o impacto negativo na possibilidade de uma solução de dois Estados. Ao retomar a iniciativa, o atual governo israelense sinaliza sua disposição de prosseguir com políticas de assentamento mesmo diante de condenação internacional.
Segundo o Ministério das Finanças, os planos de urbanização serão submetidos aos comitês distritais de planejamento nas próximas semanas. Caso aprovados, abrirão caminho para licitações de infraestrutura e, posteriormente, para o início efetivo das obras. Não há, até o momento, prazo definido para a implementação, mas líderes locais manifestaram expectativa de que as primeiras construções sejam iniciadas ainda em 2025.
Observadores internacionais consideram que a decisão pode agravar as tensões já elevadas na Cisjordânia, onde confrontos entre forças israelenses, colonos e palestinos se tornaram mais frequentes desde o ano passado. Entidades humanitárias alertam para o risco de novos deslocamentos de comunidades palestinas que residem na região destinada ao assentamento.
Até o momento, Estados Unidos, União Europeia e Nações Unidas não emitiram posicionamentos formais sobre o anúncio. Contudo, diplomatas em Jerusalém indicaram que o tema deverá ser levado a fóruns multilaterais nas próximas semanas, reforçando o debate sobre a legalidade dos assentamentos e o futuro das iniciativas para uma solução negociada do conflito.