Um júri de inquérito na Inglaterra determinou que a morte de Ruth Szymankiewicz, de 14 anos, foi resultado de homicídio ilegal decorrente de falhas graves no Huntercombe Hospital, unidade de saúde mental localizada nos arredores de Maidenhead, em Berkshire. A adolescente, natural de Salisbury, foi encontrada inconsciente em seu quarto em 12 de fevereiro de 2022, depois de permanecer cerca de 15 minutos sem supervisão, embora estivesse sob protocolo de observação constante.
Na ocasião, Ruth era acompanhada por um funcionário em seu primeiro turno no hospital. Identificado como Ebo Acheampong, ele havia obtido o emprego com documentos falsos e não possuía qualquer experiência prévia em assistência à saúde. Imagens de câmeras de segurança mostram o trabalhador deixando a sala de TV onde estava com a paciente; minutos depois, a adolescente caminhou sozinha até o quarto, onde acabou por se ferir. Trasladada ao John Radcliffe Hospital, em Oxford, faleceu dois dias depois.
A adolescente havia sido internada em outubro de 2021 para tratamento de um transtorno alimentar. À época, o Huntercombe Hospital já enfrentava problemas estruturais. Em 2021, a Comissão de Qualidade do Cuidado (CQC, na sigla em inglês) classificou a unidade como “inadequada” e, posteriormente, como “requer melhorias”. Desde então, o estabelecimento foi fechado.
O inquérito revelou que mais da metade dos profissionais escalados para o setor onde Ruth estava internada não compareceu naquele plantão. Diante da escassez, a administração deslocou Acheampong de outra ala sem oferecer treinamento adequado. O júri apontou que a insuficiência de formação dos empregados, somada à ausência de supervisão contínua, contribuiu diretamente para o desfecho fatal.
Além da falta de pessoal qualificado, outras falhas foram listadas como fatores que favoreceram o óbito: restrições de visita que permitiam a presença de apenas um familiar por vez, acesso da paciente a conteúdos potencialmente nocivos na internet e um ambiente considerado “não apropriado nem favorável” à recuperação de adolescentes com transtornos alimentares.
Após o incidente, Acheampong deixou o Reino Unido e retornou a Gana. Autoridades britânicas seguem investigando possíveis medidas legais contra o ex-funcionário, que desempenhava funções sem registros profissionais válidos.

Imagem: bbc.com
Do lado da família, os pais da adolescente, ambos médicos, manifestaram-se perante o Tribunal do Coroner em Beaconsfield, Buckinghamshire. Eles relataram frustração com o sistema de saúde mental infantojuvenil, afirmando que buscaram ajuda para a filha e, em vez de proteção, encontraram falhas que culminaram na morte da adolescente.
O veredito de homicídio ilegal imposto pelo júri obriga órgãos de fiscalização do sistema de saúde a avaliar novamente protocolos de contratação, treinamento e supervisão em unidades especializadas em saúde mental. A CQC informou que analisará as conclusões para determinar eventuais recomendações adicionais destinadas a prevenir ocorrências semelhantes.
Com a conclusão do inquérito, o caso segue agora para eventuais desdobramentos civis e criminais, incluindo a possibilidade de processos por negligência contra a antiga administração do Huntercombe Hospital e contra indivíduos envolvidos diretamente na supervisão da adolescente.