A pré-temporada da NFL trouxe um experimento incomum no Jacksonville Jaguars: o calouro Travis Hunter, segunda escolha geral do Draft de 2025, atuou simultaneamente como wide receiver e cornerback. O atleta de 1,83 m e 84 kg participou de 18 jogadas no primeiro jogo preparatório, dez delas no ataque e oito na defesa. Embora o volume tenha ficado levemente abaixo da meta estabelecida pela comissão técnica — dez snaps em cada unidade —, o desempenho apontou a intenção clara da franquia de manter o plano de utilizar o novato em dois setores do elenco profissional.
Hunter aparece no primeiro depth chart da temporada como titular no corpo de recebedores e suplente imediato na posição de cornerback. A estratégia relembra a função exercida por ele em Colorado, onde conquistou o Troféu Heisman após acumular 1.258 jardas, 15 touchdowns e 96 recepções, além de 36 tackles, quatro interceptações e 11 passes desviados. À época, o defensor-ofensivo participou de cerca de 85% dos snaps da equipe universitária, índice que reforça a confiança da comissão técnica dos Jaguars na capacidade física do atleta.
Os céticos questionam se alguém consegue manter nível de titular em duas posições na NFL, mas a experiência universitária de Hunter e seu conjunto de habilidades alimentam o otimismo interno. O head coach Liam Coen projeta começar o calouro majoritariamente no slot, setor interno do ataque que facilita leituras rápidas para o quarterback Trevor Lawrence. Com o avanço no domínio do playbook, o plano é expandir as rotas para alinhamentos externos, sobretudo em formações pesadas com múltimos tight ends, situação em que as defesas costumam empregar cobertura simples e um único safety profundo.
No sistema defensivo, Hunter será utilizado em sub-packages específicos — terceiras descidas, red zone, situações de dois minutos e posses finais — aproveitando a capacidade de localizar a bola no ar e gerar turnovers. A presença em campo nesses momentos decisivos faz parte de uma tentativa de elevar dois indicadores considerados prioritários pela diretoria: pontos anotados e bolas recuperadas.
Internamente, o departamento de performance biomecânica monitorará minutagem, velocidade média, aceleração e carga de impacto por meio de sensores acoplados ao equipamento de jogo. Também foi designado um assistente para gerenciar a comunicação entre o jogador e as diferentes salas de técnicos, agilizando o fluxo de instruções durante as trocas de unidades.
Na avaliação ofensiva, Hunter surge como principal candidato a assumir a função de wide receiver número dois. A expectativa é que o segundo-anista Brian Thomas Jr., destaque em 2024, receba marcação dupla com mais frequência, situação que aumenta a necessidade de um alvo confiável contra cobertura individual. Hunter tem histórico de mãos seguras, coordenação olho-mão acima da média e explosão no primeiro passo, características valorizadas em rotas internas, como slants e digs, comuns nos conceitos de run-pass option executados por Lawrence.

Imagem: foxsports.com
Defensivamente, a projeção indica uso prioritário na lateral do campo, onde o calouro poderá explorar a velocidade de recuperação e o timing para disputar bolas contestadas. O Jaguars aposta que as mesmas habilidades que geram recepções difíceis no ataque podem se traduzir em desarmes e interceptações na defesa, elevando o potencial de mudanças rápidas de posse.
O próprio Hunter identifica o tamanho do playbook como maior obstáculo na transição. Em Colorado, recebeu versões reduzidas dos esquemas ofensivos para jogar com maior rapidez de processamento, enquanto, na defesa, confiava sobretudo na atleticidade e na leitura instintiva. Agora, o volume de informação cresce, exigindo estudo contínuo e adaptação acelerada.
Mesmo com dúvidas externas sobre a viabilidade de um profissional atuar em alto nível nos dois lados do campo, o Jacksonville Jaguars avalia que o retorno potencial justifica o risco. Caso o modelo funcione, Hunter pode se tornar referência para futuras escolhas de Draft, influenciando formações de elenco e distribuição de snaps na liga.
A temporada regular servirá como teste definitivo para a proposta. O desempenho do calouro sob cargas físicas e mentais mais intensas, aliado ao impacto estatístico em pontos marcados e bolas roubadas, dirá se a experiência atualizará paradigmas da NFL ou se permanecerá caso isolado. Até lá, a equipe continuará a calibrar minutagem e funções, buscando equilíbrio entre produtividade e durabilidade para um dos prospectos mais versáteis a chegar ao profissional nos últimos anos.