Trump e Putin chegam ao Alasca com agendas diferentes para discutir guerra na Ucrânia

Novidade

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, reúnem-se nesta sexta-feira (data conforme contexto original) em Anchorage, no Alasca, para a primeira cúpula bilateral desde a volta de Trump à Casa Branca. O encontro foi agendado com o objetivo declarado de buscar caminhos para encerrar a guerra na Ucrânia, mas cada líder aterrissa nos Estados Unidos com prioridades distintas e interesses que vão além do conflito.

Reconhecimento e segurança para o Kremlin

Para Putin, o simples fato de sentar à mesa com o chefe de Estado norte-americano já representa um avanço político. A reunião serve como demonstração de que as tentativas ocidentais de isolar Moscou não impediram a Rússia de retomar espaço na diplomacia internacional. A coletiva de imprensa conjunta, anunciada pelo Kremlin, reforça esse argumento.

A escolha de Anchorage também favorece o lado russo. O estado fica a apenas 90 quilômetros da região de Chukotka, no extremo leste da Rússia, o que facilita a logística e reduz sobrevoos por países considerados hostis. A distância geográfica dos campos de batalha na Europa atende ainda ao interesse do Kremlin de discutir a guerra sem a presença de Kiev ou de líderes da União Europeia.

Há, além disso, um componente simbólico. Moscou tem citado a venda do Alasca aos Estados Unidos, ocorrida no século XIX, como prova histórica de que fronteiras podem mudar. O argumento, divulgado por meios de comunicação russos, é utilizado para justificar a tentativa atual de redesenhar limites na Ucrânia.

Territórios ocupados no centro da pauta russa

Putin pretende manter sob controle russo as áreas tomadas nos oblasts de Donetsk, Lugansk, Zaporizhzhia e Kherson. Autoridades em Moscou exigem que as forças ucranianas abandonem os setores ainda não ocupados nesses territórios, condição considerada inaceitável pelo presidente Volodymyr Zelensky. O cálculo russo, porém, é que a concordância de Trump com essa demanda possa pressionar Kiev; caso a Ucrânia rejeite o acordo, Washington poderia reduzir ou interromper o apoio militar.

Internamente, a economia russa enfrenta déficit orçamentário e queda na receita de petróleo e gás. Mesmo assim, não há sinais públicos de que Moscou esteja pronta para ceder: o discurso oficial é de que as tropas mantêm a iniciativa no campo de batalha.

Objetivos e incertezas do lado americano

Trump construiu sua campanha de 2024 prometendo encerrar o conflito em poucos dias. Desde que reassumiu, alternou endurecimento e recuos: repreendeu Zelensky em reunião na Casa Branca, suspendeu temporariamente ajuda militar e impôs prazos sucessivos para novas sanções à Rússia — todos revertidos nas datas-limite.

Nesta semana, a Casa Branca descreveu o encontro como uma “sessão de escuta”. Trump afirmou que, nos primeiros minutos, saberá se é possível avançar e admitiu a hipótese de abandonar a negociação. Ao mesmo tempo, voltou a manifestar otimismo, dizendo acreditar no desejo de paz de ambos os lados.

Trump e Putin chegam ao Alasca com agendas diferentes para discutir guerra na Ucrânia - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com

Assessores europeus e o presidente ucraniano entraram em contato com Trump na quarta-feira para expressar preocupação com a possibilidade de um arranjo que envolva cessão de território ucraniano. O temor é que Washington concorde com um “troca de terras” que Kiev não esteja disposta a aceitar.

Reconhecimento internacional como motivação de Trump

O presidente norte-americano busca consolidar a imagem de mediador global. Em seu discurso de posse, mencionou o desejo de ser lembrado como “pacificador” e não esconde o interesse em um eventual Prêmio Nobel da Paz. Qualquer sinal de progresso no Alasca será usado pela Casa Branca para sustentar essa narrativa.

Trump costuma evitar detalhes técnicos, mas valoriza anúncios de alto impacto. Putin, ciente dessa abordagem, pode tentar oferecer um gesto que permita ao líder americano proclamar avanço, sem abrir mão dos objetivos estratégicos russos.

Perspectivas para a reunião

Com apenas uma das partes diretamente envolvidas no conflito presente em Anchorage, analistas avaliam que um acordo abrangente é improvável. Ainda assim, o encontro marca uma etapa relevante na diplomacia da guerra da Ucrânia e pode definir os contornos do apoio dos Estados Unidos a Kiev nos próximos meses.

No fim do dia, o resultado dependerá da disposição de Trump em sustentar a pressão sobre Moscou e da avaliação de Putin sobre os custos econômicos e militares de prolongar a ofensiva. Ambas as lideranças chegam ao Alasca buscando ganhos distintos: o americano almeja produzir um gesto simbólico de paz; o russo, consolidar o que considera conquistas territoriais irreversíveis.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.