O líder do Reform UK, Nigel Farage, enviou uma carta ao primeiro-ministro Sir Keir Starmer propondo que o partido possa nomear representantes para a Câmara dos Lordes. O dirigente argumenta que a ausência de integrantes da sigla na casa revisora gera um desequilíbrio em relação a formações com presença parlamentar menor ou desempenho eleitoral inferior.
O pedido ocorre após o Reform UK conquistar quatro cadeiras na Câmara dos Comuns e assumir o controle de dez conselhos na Inglaterra, mas continuar sem qualquer assento na Câmara Alta. A legislação britânica estabelece que a indicação de novos pares é prerrogativa exclusiva do primeiro-ministro, que pode consultar lideranças oposicionistas, mas não tem obrigação constitucional de acolher suas sugestões.
Na correspondência encaminhada a Downing Street, Farage relembrou que o partido ultrapassou a marca de 4,1 milhões de votos nas eleições gerais de julho de 2024, liderou pesquisas de intenção de voto por vários meses e venceu a única eleição suplementar realizada nesta legislatura, em Runcorn and Helsby, por margem de seis votos. Para o dirigente, esses resultados comprovam a relevância da legenda no cenário político atual e justificam a presença de seus representantes na Câmara dos Lordes.
Farage ressaltou ainda que outras agremiações com número reduzido de deputados contam com participação significativa na casa revisora. Juntos, Partido Verde, Plaid Cymru e Partido Unionista do Ulster somam 13 pares. O dirigente citou também o Partido Liberal-Democrata, que dispõe de 76 assentos na Câmara dos Lordes apesar de ter recebido menos votos que o Reform UK no último pleito geral; os liberais-democratas, contudo, ocupam 72 cadeiras na Câmara dos Comuns e são atualmente a terceira maior força do Parlamento.
Embora tenha defendido reformas no modelo de composição da Câmara Alta, o líder do Reform UK considerou que, diante das mudanças no cenário político britânico, é necessário corrigir o que qualificou como “disparidade democrática” no órgão. Segundo ele, o pleito para indicar novos pares é “modesto”, mas não foram divulgados nomes de possíveis indicados.
A Câmara dos Lordes reúne mais de 800 membros, conhecidos como pares, responsáveis por revisar projetos legislativos e fiscalizar o trabalho do governo. Diferentemente dos integrantes da Câmara dos Comuns, os pares não são eleitos. Além de nomeações políticas, há representantes vitalícios e um grupo remanescente de lordes hereditários, cuja presença foi alvo de proposta recente de extinção aprovada pelos deputados.

Imagem: bbc.com
Tradicionalmente, primeiros-ministros convidam líderes oposicionistas a sugerir nomes para as listas de indicação, ainda que possam aceitar ou rejeitar as recomendações. Em dezembro, Sir Keir Starmer confirmou a criação de 30 novos pares trabalhistas, incluindo sua ex-chefe de gabinete Sue Gray. No mesmo ato, seis conservadores e dois liberais-democratas também foram nomeados.
A solicitação de Farage surge no momento em que o Reform UK reivindica o papel de principal força de oposição, posição habitualmente disputada pelos conservadores. Após os avanços nas eleições locais de maio e a vitória no distrito de Runcorn and Helsby, o partido tenta consolidar sua influência no Parlamento, agora buscando representar seus eleitores na Câmara dos Lordes.
Downing Street informou ter recebido o documento, mas ainda não divulgou posicionamento oficial sobre a demanda. Caso o governo aceite a proposta, o Reform UK poderá, pela primeira vez, exercer participação direta nos debates e nas revisões legislativas da Câmara Alta, ampliando sua visibilidade institucional. Até que uma decisão seja anunciada, permanece a dúvida sobre se a composição do órgão refletirá a nova correlação de forças estabelecida nas urnas no último ciclo eleitoral britânico.