O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, têm chegada prevista para a Base Conjunta Elmendorf-Richardson, a cerca de 30 quilômetros do centro de Anchorage, nesta sexta-feira. A visita dos dois líderes a solo norte-americano, sem a participação do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, desencadeou manifestações e reações diversas entre os habitantes do Alasca.
Por volta do meio-dia, centenas de pessoas se posicionaram ao longo de uma das principais vias de acesso à capital estadual empunhando bandeiras da Ucrânia e cartazes com mensagens contrárias à presença de Putin. Entre elas estava Hanna Correa, de 40 anos, que deixou Kiev em 2019 e hoje vive em Anchorage. A ausência de Zelensky na reunião, segundo ela, reforça o sentimento de apreensão em relação ao futuro do conflito no Leste Europeu.
Outro participante do ato, o veterano das Forças Armadas Christopher Kelliher, 53, questionou a conveniência de receber o líder russo em território norte-americano e criticou a condução da política externa pela Casa Branca. Ao longo do trajeto, a concentração de manifestantes fez com que a polícia local implantasse barreiras para controlar o trânsito.
Apesar da mobilização contrária, parte da população demonstra expectativa de que o encontro possa acelerar um eventual cessar-fogo na Ucrânia. Em um riacho nos arredores da cidade, onde a temporada de pesca do salmão atrai residentes de todo o estado, o aposentado Don Cressley afirmou esperar um desfecho rápido para a guerra em razão da destruição de cidades e do deslocamento de civis. Ele avaliou positivamente as tentativas da administração Trump de intermediar negociações.
A história da região confere dimensão adicional à reunião. O território do Alasca foi comprado do Império Russo em 1867 por 7,2 milhões de dólares, operação que na época recebeu críticas e ficou conhecida como “loucura de Seward”. Décadas mais tarde, a descoberta de petróleo, gás e minerais raros alterou a percepção sobre o valor estratégico da área. Igrejas ortodoxas com arquitetura característica ainda remetem ao legado russo. Em Anchorage, a Igreja Ortodoxa de São Tikhon promoveu três dias de orações antes da chegada dos chefes de Estado, informando que o conflito afeta diretamente a comunidade de fiéis.
A proximidade geográfica entre Alasca e Rússia mantém o tema da segurança em foco. Aeronaves militares russas são detectadas com frequência nas proximidades do espaço aéreo norte-americano. Em janeiro, caças dos Estados Unidos e do Canadá foram acionados após a identificação de vários jatos russos no Ártico, conforme o Comando de Defesa Aeroespacial da América do Norte. Para alguns moradores, como o pescador Russell Wilson, essa presença reforça a percepção de vulnerabilidade do estado, situado mais perto de Moscou do que de Washington, D.C.

Imagem: bbc.com
Outros habitantes consideram improvável qualquer escalada militar direta. Kelliher, o veterano que participou do protesto, argumentou que grande parte dos residentes possui armas de fogo e que a cultura local de autodefesa dissuadiria qualquer ofensiva terrestre. Ainda assim, especialistas em segurança consultados por autoridades estaduais alertam para a importância de monitorar atividades na região polar, onde interesses econômicos e rotas marítimas despertam crescente atenção de potências globais.
Os detalhes do cronograma do encontro não foram divulgados. Espera-se que Trump e Putin realizem uma reunião privada seguida de um pronunciamento conjunto na base militar. Fontes do Departamento de Estado indicam que cessar-fogo na Ucrânia, estabilidade estratégica e cooperação no Ártico figuram na pauta preliminar. Não há previsão de participação de representantes ucranianos.
Enquanto a diplomacia se concentra dentro dos portões da instalação militar, Anchorage permanece dividida entre ceticismo e esperança. Para a comunidade ucraniana local, o resultado das conversas pode definir o curso de uma guerra que, embora travada a milhares de quilômetros, é acompanhada diariamente com preocupação. Já para grande parte dos moradores do Alasca, a chegada de dois presidentes ao estado reforça a relevância geopolítica de uma região que, do ponto de vista histórico, sempre esteve no cruzamento de interesses entre Washington e Moscou.