O número de data centers em operação no Reino Unido deve aumentar em cerca de 20% nos próximos anos, de 477 para quase 570 instalações, segundo levantamento da consultoria de construção Barbour ABI. A expansão está diretamente ligada à crescente demanda por processamento de dados, impulsionada por aplicações de inteligência artificial (IA) e serviços digitais como streaming de vídeo e transações bancárias online.
Distribuição regional dos projetos
Mais da metade dos quase 100 novos empreendimentos deverá ser erguida em Londres e nos condados vizinhos, tornando o sudeste do país o principal polo desse tipo de infraestrutura. Os documentos de planejamento analisados apontam ainda:
- 9 unidades previstas no País de Gales;
- 5 na Grande Manchester;
- 1 na Escócia;
- demais projetos espalhados por outras regiões da Inglaterra.
Muitos dos investimentos são financiados por empresas de tecnologia dos Estados Unidos, como Google e Microsoft, além de grupos de capital privado. Atualmente, o Reino Unido ocupa a terceira posição no ranking mundial de data centers, atrás apenas dos Estados Unidos e da Alemanha.
Principais empreendimentos
O maior projeto em análise é um complexo de IA estimado em £10 bilhões na cidade de Blyth, próxima a Newcastle. Planejado pelo grupo de investimentos norte-americano Blackstone, o centro deverá ocupar o terreno de uma antiga usina elétrica e incluir 10 edifícios gigantes, somando 540 mil metros quadrados. A obra está programada para começar em 2031 e durar mais de três anos.
Antes disso, a Microsoft pretende inaugurar quatro data centers entre 2027 e 2029, ao custo total de £330 milhões: dois na região de Leeds, um próximo a Newport, no País de Gales, e outro de cinco andares em Acton, noroeste de Londres. Já o Google investe £450 milhões em duas unidades na porção nordeste da capital, totalizando 400 mil metros quadrados dentro do sistema hídrico de Lee Valley.
Pressão sobre energia e água
A rápida expansão levanta dúvidas sobre o impacto no consumo de recursos. Estimativa do National Energy System Operator (NESO) indica que a demanda elétrica adicional gerada pelos novos data centers pode chegar a 71 terawatts-hora nos próximos 25 anos, reforçando a necessidade de ampliar a oferta de energia de fontes renováveis, como parques eólicos offshore.
Especialistas apontam que estruturas voltadas a IA costumam exigir mais potência do que instalações convencionais. Nos Estados Unidos, estudos citados pela engenheira ambiental Sasha Luccioni mostram aumentos médios de US$ 20 nas faturas mensais de eletricidade de moradores de regiões que concentram data centers.

Imagem: bbc.com
O abastecimento de água, usado para resfriamento de servidores, também preocupa. Relatórios de planejamento indicam que 28 dos novos empreendimentos ficariam sob responsabilidade da Thames Water, incluindo 14 unidades adicionais em Slough, onde já se encontra o maior agrupamento desse tipo de instalação na Europa. A Anglian Water, por sua vez, contestou um projeto de 435 hectares em North Lincolnshire, ainda em análise.
Reações do governo e da indústria
O governo britânico classifica os data centers como infraestrutura nacional crítica e criou um Conselho de Energia para IA a fim de garantir o equilíbrio entre oferta e demanda. A vice-primeira-ministra, Angela Rayner, derrubou alguns vetos municipais a projetos, argumentando que eles são essenciais para o crescimento econômico.
Mesmo assim, operadores como a Equinix relatam que custos elevados de energia e trâmites de aprovação que podem durar até sete anos incentivam parte do setor a considerar países com processos mais ágeis. Em Dublin, a pressão sobre a rede levou a um veto temporário a novas construções; em 2023, os data centers responderam por um quinto do consumo elétrico da Irlanda.
O setor afirma buscar soluções sustentáveis, como sistemas de resfriamento a seco ou circuitos fechados que reutilizam água. A indústria de abastecimento apoia a expansão, mas pede aceleração na liberação de dez novos reservatórios em construção em Lincolnshire, West Midlands e sudeste da Inglaterra, destinados a garantir suprimento futuro.
Com a maioria das instalações prevista para ficar pronta até 2030, o desafio será equilibrar o avanço tecnológico com a gestão eficiente de recursos, evitando que custos adicionais recaiam sobre os consumidores.