O encontro entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, terminou nesta sexta-feira (horário local) em Anchorage, no Alasca, sem a formalização de um cessar-fogo na guerra da Ucrânia. Após quase três horas de conversas a portas fechadas, os dois líderes divulgaram uma declaração conjunta, mas se retiraram sem responder a perguntas dos cerca de cem jornalistas presentes.
A ausência de um acordo foi reconhecida pelo próprio Trump. Em breves comentários, ele afirmou que “não há pacto até que exista um pacto” e admitiu que as partes “não chegaram lá”. O presidente norte-americano sustentou que houve “grande progresso”, sem, no entanto, especificar quais pontos teriam avançado. Minutos depois, deixou o local sem detalhar próximos passos.
Pouco antes de embarcar de volta a Washington, Trump concedeu entrevista à emissora Fox News e reiterou que considera impor novas sanções contra Moscou “em duas ou três semanas”, caso não haja movimento em direção a uma trégua. Durante a campanha para o encontro, o chefe da Casa Branca havia prometido “consequências severas” se a Rússia não interrompesse as operações militares, mas manteve a resposta em aberto ao término da cúpula.
A reunião, almejada por Trump como oportunidade de exercer o papel de mediador, acaba por não produzir resultados concretos e pode afetar sua imagem doméstica e externa. Antes da viagem, o mandatário avaliara em 25% a possibilidade de fracasso das conversas. Embora não tenha oferecido concessões unilaterais, o resultado aquém do esperado tende a alimentar críticas sobre a efetividade de sua estratégia.
No palco montado para a declaração, Putin falou primeiro e por mais tempo, enquanto Trump permaneceu em silêncio. Logo após os pronunciamentos, as delegações russas e norte-americanas deixaram o salão sem atender aos gritos de repórteres em busca de explicações. A formatação incomum do evento – anunciado como coletiva, mas sem espaço para perguntas – reforçou a percepção de distância entre as posições sobre o conflito.
Desde o início da invasão, Washington pressiona por um cessar-fogo imediato. Moscou, por sua vez, insiste na remoção do que chama de “causas raiz” da guerra, conceito que, segundo diplomatas ocidentais, engloba a exigência de enfraquecer a soberania ucraniana. Durante o encontro no Alasca, Putin não deu sinal de recuar dessas condições.
O local da reunião, território que pertenceu à Rússia até sua venda aos Estados Unidos em 1867, foi lembrado por assessores do Kremlin como “América russa”. A referência, bem como a desenvoltura do presidente russo diante das câmeras, gerou comentários de que Putin se sentiu mais à vontade no ambiente, ainda que estivesse em solo norte-americano.

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Em Kiev, a notícia de que não houve entendimento foi recebida com alívio moderado. Autoridades ucranianas temiam que um eventual acordo pudesse incluir concessões territoriais. Ao mesmo tempo, líderes locais expressaram ceticismo, lembrando que pactos anteriores com Moscou acabaram descumpridos. Para a população, a falta de clareza sobre passos futuros – e a sequência de prazos ocidentais que expiraram sem punições – representa risco de continuidade ou intensificação dos ataques russos.
Não há, por ora, confirmação de um próximo encontro que inclua o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Putin mencionou de forma descontraída a possibilidade de receber Trump “na próxima vez em Moscou”, sem avançar no tema. Analistas observam que a indefinição prolonga a incerteza sobre o rumo da guerra, iniciada há três anos e meio e responsável por milhares de mortes e deslocamentos.
Com o impasse mantido, a questão-chave passa a ser se Washington adotará as sanções adicionais prometidas. Caso Trump opte por adiá-las novamente, diplomatas avaliam que Moscou interpretará a hesitação como espaço para manter a ofensiva. Se, ao contrário, as medidas forem implementadas, cresce o potencial de impacto econômico sobre a Rússia, mas também o risco de retaliações.
Até que novas iniciativas sejam anunciadas, o resultado da cúpula no Alasca resume-se à confirmação de que, por enquanto, não há cessar-fogo nem acordo abrangente capaz de alterar a dinâmica do conflito na Ucrânia.