A secretária do Interior do Reino Unido, Yvette Cooper, voltou a defender a decisão do governo de classificar a Palestine Action como organização terrorista, medida em vigor desde 5 de julho. Em artigo publicado no jornal Observer, Cooper afirmou que o grupo vai além de “um movimento de protesto com ações pontuais” e tem ligação com crimes que, segundo o Ministério Público da Coroa (CPS), apresentam conexão com terrorismo.
A declaração ocorre após a Polícia Metropolitana anunciar, na sexta-feira (12), que outras 60 pessoas serão processadas por demonstrar apoio à Palestine Action. Desde que a proibição foi decretada, mais de 700 indivíduos foram detidos, incluindo mais de 500 manifestantes em um ato no centro de Londres na semana passada.
Segundo a polícia, novas denúncias devem ser formalizadas nas próximas semanas. A corporação informou ter estruturado uma operação para investigar e encaminhar “um número significativo” de casos por semana, se necessário.
Atos e acusações citados pelo governo
Cooper destacou que a organização reivindicou uma série de ações desde o início da atual guerra em Gaza, sobretudo contra empresas de armamentos. Em junho, integrantes do grupo danificaram aeronaves na base da RAF Brize Norton, causando prejuízo estimado em 7 milhões de libras.
A secretária mencionou ainda um incidente registrado em agosto de 2024, quando supostos simpatizantes da Palestine Action invadiram a unidade da Elbit Systems UK, em Bristol. Um veículo adaptado de transporte de presos derrubou a cerca de segurança, e equipamentos foram danificados. Na ocasião, um agente de segurança e dois policiais ficaram feridos. Dezoito pessoas negam as acusações de dano criminal, agressão com lesão corporal, desordem violenta e roubo qualificado; o julgamento está previsto para novembro.
Outro ponto citado por Cooper foi um manual interno divulgado pela organização. O documento, segundo ela, orienta a criação de células, ensina como escolher alvos e indica métodos para escapar da ação policial. “Essas não são práticas de um grupo de protesto legítimo”, escreveu.
Contestação judicial e críticas de organizações de direitos humanos
A proscrição torna crime integrar ou apoiar a Palestine Action, com pena máxima de 14 anos de prisão. Em julho, a Justiça concedeu ao grupo permissão para contestar a medida. O caso será analisado pelo Tribunal Superior em novembro. A organização alega que a decisão viola o direito à liberdade de expressão e restringe protestos legítimos.

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Entidades de direitos humanos também questionam a amplitude da legislação antiterrorismo britânica e a condução das prisões. O diretor-executivo da Anistia Internacional no Reino Unido, Sacha Deshmukh, afirmou que a resposta às manifestações tem sido desproporcional e que as normas vigentes representam “ameaça à liberdade de expressão”.
Contexto de fornecimento de armamentos e operações britânicas
Embora o Reino Unido não figure entre os principais fornecedores de armas para Israel, setores britânicos produzem componentes do caça multifunção F-35, utilizado nas ofensivas em Gaza. Desde dezembro de 2023, a Real Força Aérea (RAF) realiza centenas de voos de vigilância sobre o território palestino, empregando aviões Shadow R1 a partir da base de Akrotiri, no Chipre. O Ministério das Relações Exteriores afirma que os dados coletados não são compartilhados com as Forças de Defesa de Israel.
Paralelamente, partidos de oposição, como os Liberal-Democratas, pediram revisão da legislação após a sequência de detenções ligadas à Palestine Action. A Polícia Metropolitana sustenta que está aplicando a nova classificação em conformidade com os trâmites legais.
Cooper reconheceu que alguns manifestantes se mobilizam por preocupação humanitária com Gaza e podem desconhecer a natureza das atividades atribuídas ao grupo. “Ninguém deve permitir que pedidos de paz no Oriente Médio sejam desviados para uma campanha que, aqui no Reino Unido, recorre à violência”, escreveu a secretária do Interior.