Número de travessias no Canal ultrapassa 2,5 mil em 11 dias após acordo Reino Unido-França

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Mais de 2.500 pessoas cruzaram o Canal da Mancha em pequenas embarcações nos 11 dias posteriores ao início do acordo “um por um” firmado entre Reino Unido e França, segundo dados divulgados pelo Ministério do Interior britânico. O projeto piloto determina que, para cada migrante devolvido às autoridades francesas, o Reino Unido aceitará outro solicitante de refúgio que não tenha tentado a travessia e possua forte fundamento para obter asilo.

Desde janeiro, aproximadamente 28 mil migrantes chegaram ao litoral britânico de barco e, desde a posse do governo trabalhista em julho de 2024, o total acumulado ultrapassa 50 mil. Apesar do novo arranjo bilateral, a tendência de aumento de desembarques prossegue neste verão, período historicamente favorecido por condições meteorológicas mais estáveis na região.

Nesta semana, foi relatada a presença no Canal de uma embarcação com mais de 100 ocupantes, episódio que reforça a preocupação com a superlotação dos botes infláveis. Voluntários que atuam em Calais afirmam que traficantes passaram a estimar a capacidade de transporte de até 150 pessoas por viagem, elevando o risco de esmagamento de crianças dentro das embarcações e de quedas no mar durante a travessia.

O Ministério do Interior afirma que as quadrilhas de tráfico atuam sem considerar a segurança dos migrantes e, por isso, o governo aposta em uma estratégia que combina detenção no desembarque, retorno “rápido” a território francês e cooperação operacional com Paris para inibir as partidas. Ainda não houve devoluções efetivas; o processo de transferência pode levar até três meses, intervalo necessário para concluir verificações legais e logísticas.

O entendimento entre Londres e Paris, anunciado em julho durante visita de Estado do presidente francês Emmanuel Macron, prevê duração inicial de 11 meses. Além da devolução de cruzadores irregulares, o Reino Unido compromete-se a receber número equivalente de requerentes que permaneçam em solo francês, passem por checagens de segurança e demonstrem elegibilidade ao abrigo humanitário.

A oposição conservadora alega que o mecanismo não exerce efeito dissuasório imediato. Segundo o ex-secretário do Interior no gabinete sombra, Chris Philp, a ausência de expulsões até o momento mantém as redes de contrabando em plena atividade. Já o primeiro-ministro Sir Keir Starmer reiterou, após as primeiras detenções no porto de Dover, que quem violar a lei para entrar no país estará sujeito ao retorno compulsório.

Órgãos de segurança britânicos dizem ter obtido alguns resultados contra a logística dos traficantes. Na semana passada, a Agência Nacional de Crime apreendeu 20 botes infláveis em um caminhão interceptado na Bulgária, segunda operação semelhante em menos de um mês. Para o governo, a ação ilustra a importância da cooperação internacional no combate ao fornecimento de equipamentos usados nas travessias.

Fatores como a oferta de peças de reposição, a fiscalização policial nas praias do norte da França e as condições de mar e vento influenciam a frequência dos lançamentos. Em agosto de 2023, mais de 4 mil pessoas completaram a rota marítima, indicando correlação direta entre clima favorável e aumento do fluxo.

As estatísticas oficiais apontam que afegãos formaram a principal nacionalidade entre os que chegaram pelo Canal no período de 12 meses até março de 2025. Em seguida aparecem sírios, iranianos, vietnamitas e eritreus. Juntos, esses cinco grupos representaram 61% das entradas. Em 2024, quase um terço dos 108 mil pedidos de refúgio apresentados ao Reino Unido foi de indivíduos que cruzaram em pequenas embarcações.

Pela legislação britânica, pessoas sem direito legal de permanência podem ser removidas ou ter a entrada negada. Entretanto, a Convenção de 1951 relativa ao Estatuto dos Refugiados garante a qualquer indivíduo o direito de solicitar asilo se provar risco grave à vida ou à liberdade em seu país de origem.

Com o verão avançando, ministros enfrentam pressão para demonstrar resultados concretos. A avaliação sobre o potencial dissuasório do esquema “um por um” dependerá do volume e da rapidez das futuras remoções, enquanto os dados diários refletem a persistência das redes de tráfico e a atração exercida pelo sistema de refúgio britânico.

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