Disputa pela liderança coloca Partido Verde do Reino Unido diante de escolhas estratégicas e de tom político

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O Partido Verde da Inglaterra e País de Gales definirá em 2 de setembro quem assumirá o comando nos próximos dois anos, decisão que ocorre em meio a um debate interno sobre qual caminho adotar para ampliar a presença nacional. A eleição opõe dois projetos distintos de comunicação e posicionamento público, embora pouco divergentes em conteúdo programático.

Projetos em confronto

De um lado está Zack Polanski, atual vice-líder e membro da Assembleia de Londres. Ex-ator, ele sustenta que a legenda precisa adotar uma abordagem que descreve como “eco-populista”, mais dura contra elites econômicas e capaz de “conectar-se à raiva” da população sobre custo de vida, desigualdade e crise habitacional. Para Polanski, os eleitores já reconhecem o partido como defensor do meio ambiente; a tarefa seria destacar propostas sobre taxação de grandes fortunas, defesa de serviços públicos e redistribuição de renda, apontando “inimigos” com clareza.

No campo oposto estão o co-líder atual Adrian Ramsay e a recém-eleita deputada Ellie Chowns, que concorrem em chapa conjunta. Ambos argumentam que a postura combativa pretendida por Polanski colocaria em risco a tática que permitiu ao partido quadruplicar sua representação na Câmara dos Comuns em julho do ano passado, saltando de um para quatro assentos e alcançando 6,7% dos votos no Reino Unido quando considerados também os Verdes escoceses e da Irlanda do Norte. Para a dupla, a legenda deve manter discurso amplo, capaz de atrair eleitores de diferentes matizes ideológicos em municípios rurais, urbanos e costeiros.

Desempenho eleitoral e crescimento de base

Desde o pleito geral, os Verdes registram aumento de filiados, embora o total não tenha sido divulgado. Em eleições suplementares para conselhos locais ocorridas após 4 de julho, o partido manteve 12 cadeiras e conquistou outras 14 — na maioria, em prejuízo do Partido Trabalhista —, perdendo quatro para os conservadores. O resultado reforçou o debate sobre como capitalizar o descontentamento de esquerda com a liderança trabalhista sem alienar setores moderados.

Analistas ouvidos pela imprensa britânica avaliam que a via sugerida por Polanski pode render maior visibilidade rápida, mas tende a ser menos eficaz para ampliar o número de parlamentares num sistema majoritário simples. Já a estratégia de Ramsay e Chowns, ancorada em campanhas locais intensivas, é considerada mais lenta, porém capaz de abrir caminho em distritos como North Herefordshire e Waveney Valley, conquistados por eles em 2024.

Concorrência e desafios financeiros

O cenário torna-se mais complexo diante da formação de um novo partido a ser lançado pelo ex-líder trabalhista Jeremy Corbyn em parceria com a ex-deputada Zarah Sultana. Pesquisa realizada em junho pela organização More in Common indicou que uma legenda comandada por Corbyn poderia reduzir a fatia nacional dos Verdes de 9% para 5%. Polanski sinalizou disposição para cooperar com o projeto, argumentando que a estrutura já existente do Partido Verde lhe daria vantagem. Ramsay e Chowns, porém, veem a iniciativa como ameaça direta a uma abordagem baseada na construção paciente de apoio territorial.

Outro obstáculo é o financiamento. Fiel ao princípio de não receber grandes doações corporativas, o partido arrecadou £160 mil durante o período eleitoral, contra mais de £1,6 milhão obtidos por Reform UK e Liberal-Democratas e £9,5 milhões levantados pelo Partido Trabalhista. Essa limitação restringe a escala de campanhas em âmbito nacional, independentemente de quem vença a disputa interna.

Convergência programática

Ainda que a comunicação seja o ponto de discórdia principal, há pouca divergência formal entre os concorrentes. Todos defendem imposto sobre riqueza, principais bandeiras ambientais e fortalecimento dos serviços públicos. Polanski foi além da linha oficial ao sugerir a retirada do Reino Unido da Otan, mas a maioria das proposições permanece comum e depende de deliberação da base, responsável final pela formulação de políticas.

Quem sair vencedor no início de setembro terá pela frente não apenas a tarefa de manter o crescimento recente, mas também de organizar uma nova eleição interna antes do próximo pleito geral, previsto para ocorrer dentro de cinco anos. Num ambiente político fragmentado, a escolha entre ampliar visibilidade com narrativa mais contundente ou consolidar gradualmente a presença em círculos eleitorais-alvo poderá definir se o partido converterá pequeno percentual de votos em representação parlamentar proporcionalmente maior.

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