A Air Canada voltará a operar a partir de domingo, depois que o governo federal ordenou o retorno imediato ao trabalho dos comissários de bordo que haviam iniciado greve na madrugada de sábado. A paralisação, que envolveu mais de 10 mil funcionários e provocou cerca de 700 cancelamentos, foi interrompida por determinação do Conselho Canadense de Relações Industriais (CIRB) e por decisão da ministra do Emprego, Patty Hajdu.
Em comunicado divulgado na noite de sábado, a companhia informou que o CIRB estabeleceu 14h00 (horário de Ottawa) de domingo como limite para a retomada das atividades. O órgão também prorrogou o acordo coletivo expirado em 31 de março até que um novo contrato seja firmado. Paralelamente, Hajdu invocou a Seção 107 do Código do Trabalho do Canadá para submeter o impasse a arbitragem compulsória, cujo resultado terá força de lei.
A paralisação começou às 00h58 (EDT) de sábado. Antecipando o movimento, a Air Canada já vinha reduzindo operações desde a noite de sexta-feira e chegou a suspender todos os voos, incluindo os realizados pela subsidiária de baixo custo Air Canada Rouge. Passageiros foram orientados a não se dirigir aos aeroportos a menos que tivessem reservas com outras companhias aéreas.
Durante o sábado, piquetes foram organizados nos principais terminais do país, enquanto viajantes buscavam alternativas para remarcação. A companhia afirmou que os primeiros voos de retomada deverão decolar ainda na noite de domingo, mas alertou que a normalização completa da malha aérea deve levar vários dias. “Alguns voos continuarão sendo cancelados nos próximos sete a dez dias até que o cronograma seja estabilizado”, destacou a nota.
Do lado sindical, o Canadian Union of Public Employees (Cupe), que representa os comissários, classificou a intervenção governamental como “violação de direitos constitucionais” e acusou Ottawa de ceder à pressão corporativa. A entidade não havia divulgado posição oficial sobre a ordem de retorno ao trabalho até a noite de sábado, mas advertiu que a medida “empurra problemas não resolvidos para o futuro e causa danos incalculáveis aos direitos trabalhistas”.
As negociações contratuais vinham ocorrendo há mais de oito meses, segundo o sindicato. A Air Canada ofereceu aumento total de 38% em quatro anos, sendo 25% no primeiro ano, proposta que o Cupe disse ser “inferior à inflação, ao valor de mercado e, em alguns casos, ao salário mínimo”, além de não remunerar horas em solo, como embarque e tempo de espera nos aeroportos. No início de julho, 99,7% dos trabalhadores habilitados votaram a favor da greve.

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Para o governo, a decisão de intervir buscou garantir “estabilidade e manutenção das cadeias de suprimentos” após as partes não alcançarem consenso em tempo hábil. A Air Canada, que atende diretamente 180 cidades em todo o mundo, lamentou “os transtornos causados aos clientes” e prometeu reacomodar passageiros afetados ou reembolsar bilhetes conforme legislação vigente.
Apesar da retomada gradual, os viajantes devem verificar o status dos voos antes de se deslocarem aos terminais, pois ajustes de escala, horário e equipamento podem ocorrer durante o período de transição. A companhia orienta que mudanças na programação sejam consultadas em seus canais oficiais e que o check-in antecipado seja realizado para agilizar o fluxo nos aeroportos.
A ordem de retorno ao trabalho não encerra as negociações. Com a arbitragem obrigatória em curso, sindicato e empresa deverão apresentar argumentos e propostas a um terceiro designado pelo governo. O resultado terá aplicação imediata, substituindo o acordo prorrogado pelo CIRB e definindo os termos salariais e operacionais dos próximos anos.
Enquanto aguardam a conclusão do processo, as duas partes mantêm posições públicas divergentes. A Air Canada sustenta que sua oferta garante ganhos significativos e competitivos, enquanto o Cupe afirma que a remuneração proposta continua insuficiente para cobrir o custo de vida e o trabalho realizado em solo. Sem novos desdobramentos previstos para as próximas horas, a prioridade da companhia é restabelecer a malha aérea e reduzir o impacto sobre passageiros, cargas e parceiros logísticos.