Air Canada suspende operações globais após greve de comissários de bordo

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Toronto – A Air Canada suspendeu todos os voos de suas marcas principais na madrugada deste sábado depois que cerca de 10 mil comissários de bordo iniciaram greve em todo o sistema. O movimento laboral, liderado pelo sindicato Canadian Union of Public Employees (CUPE), começou poucos minutos após o término de um aviso prévio de 72 horas, emitido na última quarta-feira, quando as negociações coletivas chegaram a um impasse.

A paralisação atinge diretamente os serviços Air Canada e Air Canada Rouge. A subsidiária regional Air Canada Express, responsável por aproximadamente 20% dos passageiros diários da companhia, continua operando. Mesmo assim, a empresa calcula que um desligamento completo pode afetar até 130 mil clientes por dia, incluindo 25 mil residentes no Canadá, em pleno pico da temporada de verão no hemisfério norte.

Impasse salarial e horas não remuneradas

O sindicato afirma que, após mais de oito meses de tratativas, a transportadora não apresentou propostas capazes de resolver questões centrais, como defasagem salarial frente à inflação e o não pagamento de determinadas horas de trabalho, entre elas o tempo de espera nos aeroportos e o processo de embarque. A categoria rejeitou uma oferta que, segundo a empresa, elevava a remuneração total em 38% ao longo de quatro anos, com reajuste imediato de 25% no primeiro ano. Para o CUPE, o pacote ficaria abaixo do custo de vida e do valor de mercado, configurando, na prática, redução real dos vencimentos.

Em votação realizada no início do mês, 99,7% dos comissários aprovaram a realização da greve. A última paralisação desse segmento na Air Canada ocorreu em 1985.

Lockout e cancelamentos graduais

Hora seguinte ao recebimento do aviso do sindicato, a Air Canada emitiu seu próprio comunicado de lockout, também com prazo de 72 horas, e iniciou a redução progressiva da malha aérea. Na sexta-feira, a companhia previu o cancelamento de 500 voos, com impacto estimado em 100 mil passageiros. De acordo com o diretor de Operações, Mark Nasr, o sistema de programação de aeronaves e tripulações é complexo e “não pode ser ligado ou desligado ao simples apertar de um botão”.

A transportadora possui 259 aeronaves e atende 64 países. Com a interrupção ampla dos serviços de sábado em diante, clientes foram instruídos a evitar deslocamentos aos aeroportos, a menos que tenham bilhetes emitidos por outras companhias. Viagens canceladas serão reembolsadas integralmente, e a empresa informou ter acordos com transportadoras parceiras para oferecer rotas alternativas. Em bilhetes de ida e volta, o trecho de retorno não é suspenso automaticamente; o passageiro pode optar pelo cancelamento sem cobrança de taxas.

Pressão por intervenção governamental

A Air Canada solicitou formalmente que o governo federal imponha arbitragem obrigatória, citando precedentes em disputas do setor ferroviário, portuário e de outros segmentos de transporte. Caso a ministra do Trabalho, Patty Hajdu, acolha o pedido, o processo seria remetido ao Conselho de Relações Industriais do Canadá, que costuma avaliar a matéria por alguns dias antes de deliberar. A companhia defende que a medida protegeria a economia nacional.

O CUPE, porém, pediu que Ottawa não interfira, sustentando que um acordo deve ser alcançado em mesa de negociação “livre e justa”. Para o sindicato, a imposição de arbitragem encerraria a primeira greve de comissários em quase quatro décadas antes que as reivindicações fossem devidamente tratadas.

Entidades externas também se posicionaram. A Câmara de Comércio da Região Metropolitana de Toronto fez coro ao apelo por intervenção governamental, enquanto o governo de Terra-Nova e Labrador classificou o impacto potencial sobre o turismo local como “catastrófico” caso a paralisação se prolongue.

Precedente histórico

A última greve de grande porte na Air Canada ocorreu em setembro de 1998, quando pilotos pararam por 13 dias. À época, mais de 600 voos diários foram suspensos, provocando prejuízo de 133 milhões de dólares canadenses até que um acordo fosse firmado. Desde então, o governo federal interveio em algumas ocasiões para evitar paralisações entre trabalhadores da companhia.

Enquanto a situação atual permanece indefinida, passageiros aguardam orientações sobre remarcações e reembolsos, e ambos os lados enfrentam pressão crescente para retomar as negociações. Não há previsão oficial para a retomada integral das operações.

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