Estudantes do 11º ano de uma escola de Londres reviveram os primeiros meses da pandemia ao abrir, nesta semana, cartas que haviam escrito para si mesmos em março de 2021, quando ainda cursavam o 7º ano. Os textos, guardados como uma cápsula do tempo, foram lidos poucos dias antes da divulgação dos resultados do General Certificate of Secondary Education (GCSE), marcada para quinta-feira em Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte.
As cartas foram redigidas em 12 de março de 2021, segundo dia de retorno às aulas presenciais após um longo confinamento. A então professora responsável pela turma, Damaris Bateson, solicitou que cada aluno registrasse expectativas e questionamentos sobre o futuro. O objetivo era estimular confiança e motivação num momento em que a transição do ensino fundamental para o médio ocorria sob fortes restrições sanitárias.
Cartas revelam preocupações de 2021
Na época com 11 anos, Charlie demonstrou receio de testar positivo “de repente” e incluiu uma pergunta que agora o faz corar: se aos 16 anos já teria namorada. Quatro anos depois, ele continua sem resposta afirmativa para a vida amorosa, mas planeja cursar A-levels em História, Literatura Inglesa, Francês e Latim.
Vanessa, que enfrentava dificuldade de adaptação no início do secundário, escreveu que desejava estudar Arquitetura na Universidade Columbia, em Nova Iorque, e aconselhou a si mesma a não se deixar distrair dos estudos. Hoje, permanece com o mesmo objetivo acadêmico.
Eve utilizou a carta para recordar à versão futura a importância de valorizar os avós diariamente e incluiu duas caixas a serem marcadas: “Ainda está feliz?” e “Ainda deseja ser bem-sucedida?”. Ao reler o texto, afirmou que ambos os “sim” continuam válidos. Já Fisayomi descreveu a frustração de não poder ver familiares e amigos e expressou esperança de que, quando chegasse ao 11º ano, a Covid-19 tivesse deixado de ser ameaça constante. Atualmente, ele se dedica ao futebol com colegas que conhece desde os três anos e pretende seguir carreira no Direito.
Rotina escolar sob restrições sanitárias
O grupo que agora conclui o ciclo do GCSE passou praticamente todo o ensino médio sob impacto direto da pandemia. Primeiro, enfrentaram meses de aulas remotas. No retorno, foram organizados em “bolhas” que limitavam o acesso a determinadas áreas da escola e restringiam a interação entre turmas. Em muitos casos, passaram dias inteiros na mesma sala, com janelas abertas mesmo no inverno para aumentar a ventilação, situação lembrada por Charlie como “estranha” e “gelada”.

Imagem: Internet
A coordenadora Damaris Bateson, responsável pelo acompanhamento desses estudantes desde setembro de 2020, ressalta que o período foi marcado por isolamento e incertezas. Ao propor as cartas, pretendia registrar a perspectiva dos jovens em meio ao confinamento e, ao mesmo tempo, oferecer um estímulo para o futuro. Segundo a professora, rever os textos às vésperas das provas mostrou aos alunos que, apesar das dificuldades, mantiveram metas ambiciosas.
Próximos passos e investigação oficial
O percurso escolar dessa geração será tema de uma nova etapa do Inquérito sobre a Covid-19 no Reino Unido, prevista para começar no próximo mês, quando serão avaliados os efeitos da crise sanitária sobre crianças e adolescentes. Enquanto isso, os estudantes aguardam os resultados que definirão o ingresso em cursos pré-universitários, estágios ou outras trajetórias.
Vanessa segue focada na candidatura à universidade nos Estados Unidos; Fisayomi mira o Direito; Eve ainda avalia opções, mas declara confiança absoluta no sucesso; e Charlie mantém os planos acadêmicos, embora ainda procure responder à pergunta que registrou na infância. Para todos, a abertura da cápsula do tempo reforçou o contraste entre as incertezas de 2021 e a expectativa pelo próximo capítulo de suas vidas acadêmicas e pessoais.