A Associated British Foods (ABF), controladora da marca Kingsmill, anunciou ter firmado acordo para adquirir a rival Hovis e integrar as operações das duas empresas. A transação, ainda sujeita à aprovação da Autoridade de Concorrência e Mercados do Reino Unido (CMA), pode criar o maior grupo produtor de pão do país.
O entendimento foi comunicado aos investidores nesta sexta-feira. Caso seja confirmado, o negócio reunirá duas panificadoras que atualmente registram prejuízos, mas que, segundo a ABF, têm potencial de retorno após a implementação de cortes de custos e ganhos de eficiência. A companhia informou que a fusão permitirá “sinergias significativas” e posicionará as marcas para competir de forma mais eficaz, além de facilitar o lançamento de novos produtos adaptados a mudanças nos hábitos de consumo.
A ABF é um conglomerado diversificado conhecido também por deter a varejista de moda Primark e marcas alimentares como Ryvita e Twinings. No setor de panificação, opera por meio da Allied Bakeries, responsável pelos pães Kingsmill e Allinson’s. A aproximação com a Hovis havia sido confirmada há cerca de três meses, quando começaram as negociações formais.
Contexto de mercado
O setor de pães embalados do Reino Unido passa por transformação. A Warburtons ocupa atualmente a liderança em volume de vendas, mas o consumo das tradicionais fatias brancas vem caindo. Consumidores britânicos têm dado preferência a pães especiais, como sourdough e ciabatta, ou simplesmente reduzido o consumo de carboidratos, trocando sanduíches e torradas por dietas com maior teor proteico.
Nesse cenário, tanto Kingsmill quanto Hovis enfrentam queda de participação no mercado doméstico. A ABF afirma que a junção das duas estruturas tornará o novo grupo mais resistente às pressões competitivas e capaz de aproveitar melhor a capacidade instalada de produção e distribuição.
Histórico da Hovis
Fundada em 1890, a Hovis tornou-se um dos nomes mais tradicionais da panificação britânica. Em 2020, foi adquirida pela gestora de private equity Endless, que comprou a marca da Premier Foods – detentora, entre outros ativos, da linha de bolos Mr Kipling. Agora, quatro anos depois, a Endless concordou em repassar o controle para a ABF. O valor da transação não foi revelado.
Planos de reestruturação
De acordo com o comunicado, a ABF pretende integrar linhas de produção, logística e administração para reduzir despesas e restaurar a rentabilidade. Contudo, o conglomerado não detalhou quantos postos de trabalho podem ser afetados nem quais plantas industriais poderão ser reavaliadas.

Imagem: bbc.com
O sindicato Unite, que representa funcionários de ambas as fabricantes, reagiu declarando que “não tolerará ataques a empregos, salários ou condições” e que espera participar de todas as discussões que envolvam trabalhadores. A secretária-geral da entidade, Sharon Graham, ressaltou que o acordo ainda está longe de ser concluído e que o sindicato exigirá garantias de proteção laboral antes de qualquer mudança operacional.
Próximos passos
Para avançar, o negócio precisará do sinal verde da CMA, órgão regulador responsável por zelar pela concorrência. A autoridade analisará se a fusão pode reduzir a competição no setor de panificação, afetar preços ou limitar opções ao consumidor. O cronograma de avaliação não foi definido publicamente.
Paralelamente, a ABF adianta estudos internos sobre o futuro portfólio de produtos. A empresa acredita que a combinação de duas marcas históricas permitirá atender nichos de mercado distintos: enquanto a Kingsmill tem forte presença em pães de formato tradicional, a Hovis conserva apelo junto a consumidores que buscam receitas mais rústicas, como o chamado “best of both” (mistura de farinha branca e integral). A meta declarada é oferecer maior variedade e reconquistar espaço nas prateleiras dos supermercados.
Se receber aprovação regulatória, a transação transformará o cenário competitivo britânico, colocando o novo grupo à frente da Warburtons em capacidade instalada e presença nacional. Mesmo assim, a companhia afirma que a estratégia vai além da escala; segundo a ABF, adaptar-se às novas preferências alimentares é condição necessária para restabelecer o crescimento num mercado em rápida evolução.