Cinco profissionais da Al Jazeera morreram em um ataque israelense nas imediações do Hospital Al-Shifa, na Cidade de Gaza, informou a emissora nesta terça-feira. A ação atingiu uma tenda usada pela imprensa na entrada principal do complexo hospitalar, local onde se encontravam os correspondentes Anas al-Sharif e Mohammed Qreiqeh, além dos cinegrafistas Ibrahim Zaher, Mohammed Noufal e Moamen Aliwa.
Segundo a Al Jazeera, o bombardeio resultou na morte de sete pessoas no total. A rede classificou o episódio como um “assassinato direcionado” e um ataque deliberado à liberdade de imprensa. Inicialmente, a empresa noticiou quatro mortes entre seus funcionários, mas revisou o balanço para cinco após a confirmação da identidade de todos os atingidos.
As Forças de Defesa de Israel (FDI) confirmaram ter realizado a ofensiva que matou Anas al-Sharif. Em mensagem publicada no Telegram, o exército israelense afirmou que o repórter seria “chefe de uma célula terrorista do Hamas” e que supostamente se passava por jornalista. O comunicado não mencionou os demais profissionais atingidos pelo disparo.
De acordo com a nota militar, foram adotadas medidas para limitar danos a civis, incluindo o uso de munição de precisão, vigilância aérea e checagem de informações de inteligência. As FDI também alegaram que já haviam divulgado indícios da suposta participação de al-Sharif em atividades militares, entre elas listas de cursos de treinamento.
Dentro da tenda onde trabalhavam, os repórteres e cinegrafistas documentavam as consequências dos combates na capital do enclave palestino. O editor-geral da Al Jazeera, Mohamed Moawad, declarou à BBC que os profissionais não estavam na linha de frente e que a equipe atuava em área previamente identificada como ponto de imprensa. Para ele, o ataque demonstra uma tentativa de silenciar a cobertura dos acontecimentos em Gaza.
Desde o início da atual guerra, lançada por Israel em outubro de 2023, repórteres estrangeiros não têm autorização para entrar livremente na Faixa de Gaza. Por esse motivo, veículos internacionais dependem de jornalistas locais para relatar a situação no território. Segundo Moawad, al-Sharif era um jornalista credenciado e considerado “voz essencial” para o acompanhamento da crise humanitária.
Horas antes de morrer, o repórter de 28 anos publicou na rede social X informações sobre bombardeios intensos na cidade. Após o anúncio de sua morte, uma mensagem programada por um colega apareceu em sua conta, relatando a gravidade dos ataques. Imagens verificadas pela equipe da BBC mostram homens vestindo coletes de imprensa retirando corpos entre os escombros; em uma das gravações, é possível ouvir pessoas chamando por Qreiqeh e identificando al-Sharif.

Imagem: bbc.com
No mês passado, a Al Jazeera Media Network, a Organização das Nações Unidas (ONU) e o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) divulgaram apelos públicos para garantir a segurança de al-Sharif. Segundo a emissora, as FDI vinham conduzindo “esforços incessantes” de incitação contra seus correspondentes na Faixa de Gaza, criando um ambiente que, na avaliação da empresa, buscava legitimar possíveis ataques a profissionais da imprensa.
O CPJ registra 186 jornalistas mortos desde o início da ofensiva israelense em Gaza, em outubro de 2023. O número inclui profissionais palestinos, israelenses e de outras nacionalidades. A entidade reforça que as ameaças à integridade de repórteres no território seguem elevadas e que muitos trabalham sem acesso a suprimentos básicos, enfrentando riscos de fome e doença além dos bombardeios.
A ofensiva que atingiu o Hospital Al-Shifa ocorre em um contexto de intensificação das operações militares na área, considerada pelas FDI um ponto estratégico de Hamas. O complexo hospitalar, o maior da Faixa de Gaza, tem sido alvo frequente de ações israelenses sob a alegação de servir como base de movimentação do grupo palestino. Autoridades locais e organizações humanitárias, por sua vez, denunciam impacto crescente sobre civis e pacientes.
A Al Jazeera reiterou que continuará cobrindo a guerra na Faixa de Gaza e demandou investigação internacional sobre o ataque. Até o momento, o governo israelense não respondeu a pedidos de esclarecimento adicionais a respeito das mortes dos outros quatro jornalistas.