Base militar no Alasca recebe encontro entre Trump e Putin para discutir guerra na Ucrânia

Novidade

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, reúnem-se nesta sexta-feira (15) na Joint Base Elmendorf-Richardson, nos arredores de Anchorage, Alasca, com o objetivo declarado de avaliar caminhos para encerrar a guerra na Ucrânia.

A instalação militar, localizada na extremidade norte da cidade mais populosa do estado, foi escolhida pela Casa Branca por atender a requisitos de segurança e pela disponibilidade de espaço em meio à alta temporada turística do verão local. O encontro foi marcado com pouca antecedência, após Trump definir o prazo de 8 de agosto para que Moscou aceitasse um cessar-fogo imediato sob pena de sanções mais severas — ultimato que não surtiu efeito.

Com 64 mil acres, a Joint Base Elmendorf-Richardson é o maior complexo militar do Alasca e desempenha função estratégica para a prontidão das forças dos EUA no Ártico. Fundada em 1940, a base foi ponto vital de defesa aérea durante a Guerra Fria, quando chegou a abrigar 200 caças e avançados sistemas de radar, ganhando o apelido de “Cobertura Superior da América do Norte”.

Mais de 30 mil pessoas vivem no local, número que corresponde a cerca de 10% da população de Anchorage. A paisagem ao redor inclui montanhas nevadas, lagos glaciais e temperaturas que, no inverno, podem cair a –12 °C. Para a reunião de sexta-feira, porém, a previsão indica clima ameno, em torno de 16 °C.

Em visita à base em 2019, durante seu primeiro mandato, Trump descreveu o contingente ali destacado como “primeira linha de defesa” dos Estados Unidos. A localização também carrega simbolismo histórico: o Alasca foi comprado da Rússia em 1867 e tornou-se estado americano em 1959. O assessor presidencial russo Yuri Ushakov lembrou que os dois países são separados apenas pelo estreito de Bering, classificando como “lógica” a escolha de um território próximo para o encontro.

Esta será a quarta tentativa de mediação liderada por Trump desde junho. As três rodadas anteriores — conduzidas por delegações russas e ucranianas a pedido do ex-presidente — não aproximaram as partes de um acordo. A Casa Branca afirma tratar-se de um “exercício de escuta” para Trump, que descreveu o encontro como reunião exploratória para pressionar Putin a encerrar o conflito.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, não deve comparecer. Trump declarou que Zelensky “poderia ir”, mas acrescentou que o líder ucraniano já participou de “muitas reuniões”. Está agendado, contudo, um encontro virtual entre os dois na quarta-feira, com participação de dirigentes europeus. Zelensky reiterou que qualquer decisão sem a presença de Kiev resultará em “decisões mortas”.

Apesar de afirmar que tentará recuperar para a Ucrânia parte dos territórios ocupados, Trump admitiu na segunda-feira que “poderá haver alguma troca ou alteração de terras”. Kyiv, por sua vez, rechaça qualquer cessão permanente de regiões tomadas pela Rússia desde 2014, incluindo a Crimeia. O Kremlin continua exigindo neutralidade ucraniana, definição do tamanho futuro das forças armadas do país e reconhecimento de controle sobre áreas ocupadas.

Base militar no Alasca recebe encontro entre Trump e Putin para discutir guerra na Ucrânia - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com

Reportagem da emissora parceira CBS News indica que assessores de Trump discutem com governos europeus uma proposta de cessar-fogo que manteria a Crimeia sob domínio russo e entregaria às forças de Putin o Donbas — Donetsk e Luhansk — enquanto exigiria a retirada russa de Kherson e Zaporizhzhia. Até o momento, nenhuma das partes confirmou publicamente esse formato.

A última vez que Anchorage sediou um evento diplomático de grande porte foi em março de 2021, quando integrantes do governo de Joe Biden se reuniram com autoridades chinesas. Na ocasião, a conversa terminou em tom tenso, com acusações mútuas de hipocrisia.

Pouco antes do encontro desta semana, o enviado especial dos EUA Steve Witkoff manteve, na quarta-feira em Moscou, conversas descritas por Trump como “altamente produtivas”. Mesmo assim, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, minimizou as expectativas de um cessar-fogo imediato, reforçando que o objetivo inicial é ouvir as demandas russas.

Enquanto Trump insiste que o conflito “jamais teria acontecido” se estivesse no poder em 2022, o presidente russo não deu sinais de ceder em suas reivindicações territoriais. Com a guerra prestes a entrar no terceiro ano, a cúpula no Alasca será observada de perto por Kiev, capitais europeias e aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que defendem negociações só com participação direta da Ucrânia.

Seja qual for o resultado, a escolha de uma base fundada no auge da rivalidade soviético-americana para tentar mediar a maior crise de segurança europeia desde 1945 acrescenta peso histórico a uma negociação ainda cercada de incertezas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.