A Claire’s, cadeia varejista de bijuterias e acessórios de moda, informou que apresentará pedido de administração judicial no Reino Unido e na Irlanda, medida que coloca em risco cerca de 2.150 postos de trabalho. O grupo conta hoje com 278 lojas em território britânico e 28 unidades irlandesas, todas ainda em operação. A decisão foi anunciada após sucessivas quedas de receita e intensificação da concorrência on-line.
Com a nomeação formal da consultoria Interpath como administradora, prevista para os próximos dias, o objetivo inicial é analisar alternativas para a continuidade da marca. Entre as possibilidades está a venda total ou parcial do negócio, hipótese considerada prioritária pela direção da Interpath. Enquanto o processo é conduzido, as lojas permanecerão abertas e atendendo normalmente.
Chris Cramer, diretor-executivo da Claire’s, declarou que o pedido de administração foi classificado internamente como “difícil”, mas entendido como o melhor caminho para ganhar tempo e avaliar soluções que preservem a operação. O movimento repete o que ocorreu no início do mês nos Estados Unidos, onde a empresa protocolou pedido de proteção contra falência citando mudanças no comportamento do consumidor, maior competição e obrigações financeiras elevadas.
A rede atua sob as bandeiras Claire’s e Icing e pertence a um consórcio de investidores que inclui a gestora Elliott Management. Conhecida pelo serviço de furo de orelha e pela oferta de produtos coloridos voltados ao público infanto-juvenil, a marca foi presença constante em shoppings internacionais nos anos 2000. Neste período, tornou-se ponto de referência para acessórios de baixo custo, como tiaras, brincos, pulseiras e itens sazonais.
Analistas apontam que o modelo de negócios, fortemente baseado em lojas físicas, perdeu fôlego diante da migração acelerada para o comércio eletrônico. A pressão aumentou com a escalada de custos de importação, uma vez que grande parte do sortimento é produzida na Ásia. Tarifas adicionais aplicadas pelos Estados Unidos a mercadorias chinesas, por exemplo, teriam comprimido margens já estreitas, segundo especialistas do setor.
No Reino Unido, a retração do fluxo em centros comerciais e ruas de varejo — fenômeno atribuído à preferência por compras on-line e à inflação — vem atingindo diferentes redes intensivas em lojas. A Claire’s agora soma-se a uma lista de empresas que recorreram ao processo de administração como tentativa de reestruturação financeira e operacional.
Imagem: bbc.com
Consultorias de cadeia de suprimentos observam que o desempenho recente da Claire’s também foi afetado por ajustes logísticos insuficientes para responder a ciclos de moda cada vez mais curtos. A demora na adaptação, combinada ao encarecimento de fretes e insumos, reduziu a competitividade em relação a plataformas digitais que operam com estoques enxutos e entregas rápidas.
No âmbito da administração judicial, os gestores nomeados deverão revisar contratos com fornecedores, renegociar aluguéis e avaliar a viabilidade de cada ponto de venda. Qualquer evolução dependerá de interessados na aquisição da marca ou de partes de sua estrutura. Caso não surja comprador, lojas poderão ser fechadas gradualmente e funcionários, dispensados.
Nos Estados Unidos, onde ainda mantém todas as unidades funcionando, a rede segue o mesmo roteiro: operação regular enquanto procura investidores ou alternativas de financiamento. A estratégia visa preservar receita e relacionamento com clientes até que uma solução definitiva seja encontrada.
Por ora, consumidores não devem notar mudanças imediatas no atendimento. Entretanto, o quadro de incerteza se mantém, e o futuro de mais de dois mil trabalhadores britânicos e irlandeses dependerá do resultado das negociações conduzidas pela Interpath nas próximas semanas.
