O deputado conservador Chris Philp, que ocupa o cargo de shadow home secretary no Reino Unido, afirmou ter sido alvo de ameaças com faca e de arremesso de garrafas enquanto conversava com migrantes em um acampamento na região norte da França. O relato foi feito em um vídeo publicado nas redes sociais, no qual Philp aparece acompanhado do jornalista Zak Garner-Purkis, do Daily Express, que o acompanha na viagem.
No registro, ambos caminham à margem de uma estrada próxima ao local quando, segundo Philp, um indivíduo empunhou um objeto descrito como “algum tipo de facão” atrás deles. O parlamentar diz ter considerado a situação “chocante” e afirma que deixou a área rapidamente. Garner-Purkis acrescenta que o homem “balançava a lâmina no ar” para intimidar os demais presentes, sugerindo que a atitude poderia ter sido um aviso aos migrantes para que não conversassem com visitantes.
Enquanto os dois relatavam o episódio diante da câmera, objetos começaram a ser lançados em sua direção. O jornalista observa no vídeo que “estão jogando garrafas contra nós”, e Philp encerra a gravação dizendo: “Precisamos sair daqui”. O parlamentar viajou à costa norte da França para, segundo ele, “entender de perto o que está ocorrendo na crise de migração ilegal” que envolve travessias do Canal da Mancha em pequenas embarcações.
A tentativa de chegar ao Reino Unido por meio de botes infláveis tem aumentado nos últimos oito anos. Desde 2018, ano em que os registros oficiais tiveram início, mais de 170 mil pessoas completaram a travessia. Em 2022, foram 45.755 chegadas; em 2024, 37 mil; e, até 11 de agosto deste ano, 27.029 migrantes desembarcaram em solo britânico.
Dados referentes aos três primeiros meses de 2024 indicam que afegãos formaram o maior grupo por nacionalidade entre os que atravessaram o canal, seguidos por sírios, iranianos, vietnamitas e eritreus. O fluxo tem gerado pressões políticas no Reino Unido e na França para conter as ações de redes de tráfico de pessoas.
O governo trabalhista britânico, no poder desde o início de 2024, anunciou medidas para “desmantelar as quadrilhas” envolvidas nas travessias. Entre as iniciativas, estão a destinação de 100 milhões de libras para financiar 300 agentes da Agência Nacional do Crime (NCA, na sigla em inglês) dedicados ao combate a contrabandistas. Outra medida é o acordo “um-por-um” com a França: parte dos migrantes que chegam ilegalmente ao Reino Unido será devolvida ao território francês, enquanto o Reino Unido se compromete a receber solicitantes de asilo que estejam na França e não tentaram a travessia.

Imagem: bbc.com
O primeiro-ministro Sir Keir Starmer descreveu o acerto como resultado de “meses de diplomacia madura” e declarou que o pacto produzirá “resultados concretos”. A oposição conservadora, porém, critica a estratégia e lamenta o abandono do plano anterior, que pretendia transferir solicitantes de asilo para Ruanda a fim de processar seus pedidos no país africano.
No início desta semana, Philp argumentou que o governo trabalhista “desmantelou dissuasões antes mesmo que fossem implementadas” e disse ter presenciado, em uma visita à costa francesa, dois botes sobrecarregados sendo “escoltados” para águas britânicas em menos de meia hora. “Todo migrante ilegal deveria ser removido imediatamente após a chegada”, afirmou o parlamentar.
Organizações da sociedade civil contestam a nova política. Louise Calvey, diretora da entidade Asylum Matters, considerou o acordo com a França “mais um ataque ao direito humano de buscar refúgio”. Ela sustenta que o Reino Unido ignora a Convenção sobre Refugiados de 1951, que permite a indivíduos viajarem por meios irregulares quando buscam proteção.
O incidente relatado por Philp ocorreu em meio a esse contexto de tensão entre propostas de contenção, críticas a políticas anteriores e disputas quanto à forma de tratar migrantes que tentam chegar ao Reino Unido. Até o momento, as autoridades francesas não comentaram publicamente o episódio no acampamento, e não há informação sobre feridos ou detenções relacionadas ao caso.