Criadores de ‘Stranger Things’ fecham acordo exclusivo com a Paramount e podem deixar a Netflix

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São Paulo – Matt e Ross Duffer, responsáveis pela criação, redação e direção de diversos episódios de “Stranger Things”, acertaram um contrato de exclusividade com a Paramount, controlada atualmente pela Skydance de David Ellison. A decisão encerra negociações que se arrastavam desde o início da semana e indica a possível saída do duo de roteiristas e produtores de uma das séries de maior audiência da Netflix.

As primeiras informações sobre a mudança foram divulgadas por publicações especializadas como a Variety. Na sexta-feira, o jornalista Matthew Belloni, do portal Puck, confirmou que os irmãos escolheram a proposta da Paramount. Os termos financeiros não foram detalhados, mas a preferência pelo estúdio teria pesado principalmente pela liberdade de exibir filmes em circuito comercial antes da chegada ao streaming – ponto considerado decisivo pelos criadores.

Desde a estreia de “Stranger Things” em 2016, a ambição dos Duffers cresce a cada temporada. Os episódios passaram a durar mais, as sequências de ação tornaram-se mais elaboradas e o orçamento acompanhou o ritmo. Estimativas apontam que a quarta temporada custou aproximadamente US$ 30 milhões por episódio, valor que colocou a série entre as mais caras já produzidas para o streaming.

Com o salto de escala, os irmãos passaram a mirar produções cinematográficas de grande orçamento, típicas de blockbusters voltados para salas de exibição convencionais. Nessa área, a Netflix enfrenta limitações derivadas de sua estratégia de lançamento. A empresa adota janelas curtas ou inexistentes entre a estreia nos cinemas e a disponibilização no streaming, postura que afasta as principais redes exibidoras dos Estados Unidos. Em recente apresentação a investidores, o co-CEO Ted Sarandos chegou a classificar o modelo tradicional de exibição como “um conceito ultrapassado”.

Apesar de colocar alguns títulos em cartaz, a plataforma raramente cede exclusividade superior a poucos dias. Por esse motivo, produções originais da companhia quase não chegam às grandes cadeias de cinema. A rigidez na política de janelas tem sido motivo de atrito com cineastas que valorizam a experiência da tela grande.

Um exemplo recente envolve Greta Gerwig. Para comandar a nova adaptação de “Crônicas de Nárnia”, a diretora de “Barbie” negociou a garantia de que o primeiro longa da franquia seja projetado exclusivamente em salas Imax durante pelo menos duas semanas. Só depois o filme chegará ao catálogo do serviço em 25 de dezembro de 2026. A concessão mostra que parte dos talentos do estúdio exige visibilidade tradicional antes do streaming – mesma demanda apresentada pelos irmãos Duffer.

Segundo Belloni, a oferta da Paramount incluiu a promessa de lançamentos amplos em cinemas, fator que teria sido o diferencial na disputa. Ao aceitar o acordo, os criadores ficam vinculados ao estúdio para futuros projetos de cinema e televisão, o que reduz a probabilidade de colaboração inédita com a Netflix após a conclusão dos compromissos existentes.

A saída, contudo, não será sentida de imediato pelo público do serviço de streaming. A temporada final de “Stranger Things” está programada para 2025 e será dividida em três partes, todas já em produção. Além disso, a Netflix mantém duas séries desenvolvidas pelos Duffers com estreia prevista para 2026, frutos de acertos firmados antes da mudança.

Paralelamente, a marca “Stranger Things” continua em expansão. Um espetáculo teatral que narra eventos anteriores à saga televisiva está em cartaz na Broadway, uma série animada foi confirmada e um derivado em live action segue em fase de roteiro. Esses projetos permanecem sob controle da Netflix, que detém os direitos da propriedade intelectual e pretende explorar o universo construído pelos irmãos nos últimos oito anos, mesmo sem a participação direta da dupla em desenvolvimentos futuros.

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