Trump e Putin se reúnem no Alasca com prioridades distintas para a guerra na Ucrânia

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, têm encontro marcado para esta sexta-feira em Anchorage, no estado norte-americano do Alasca. A reunião, primeira entre os dois líderes desde a posse de Trump em janeiro, ocorre em meio à busca por uma saída para o conflito na Ucrânia e expõe interesses que caminham em direções diferentes.

Reconhecimento e território no foco de Moscou

Para o Kremlin, a cúpula já oferece um ganho imediato: o reconhecimento de que os esforços ocidentais para isolar Putin perderam força. O simples fato de a reunião ocorrer nos Estados Unidos, com direito a coletiva conjunta anunciada por Moscou, permite à Rússia argumentar que voltou ao centro das negociações globais.

Anchorage também apresenta vantagens práticas à delegação russa. A menor distância entre o continente norte-americano e a Sibéria — cerca de 90 quilômetros entre o Alasca e Chukotka — reduz o sobrevoo por países considerados “hostis”. Além disso, a localização distante de Kiev e das capitais europeias reforça a estratégia de Moscou de tratar o impasse diretamente com Washington, afastando autoridades da Ucrânia e da União Europeia.

No conteúdo das conversas, Putin pretende manter o controle dos territórios ocupados nos oblasts de Donetsk, Luhansk, Zaporizhzhia e Kherson. O governo russo defende que Kiev retire suas forças das áreas ainda sob domínio ucraniano nesses quatro regiões, condição inaceitável para o presidente Volodymyr Zelensky. A expectativa do Kremlin é que, se Trump respaldar a exigência territorial, uma recusa de Kiev possa levar Washington a cortar assistência militar e financeira, deixando a Rússia em posição privilegiada para consolidar seus ganhos.

A situação econômica interna, porém, pressiona Moscou. O déficit orçamentário cresce, enquanto a arrecadação com petróleo e gás diminui. Caso a conjuntura piore, autoridades russas podem avaliar concessões para encerrar o conflito. Até o momento, porta-vozes do governo insistem que as tropas mantêm a iniciativa no campo de batalha, sinalizando pouca disposição para recuar.

Trump busca a imagem de pacificador

Trump chega ao encontro carregando a promessa de campanha de resolver a guerra “em poucos dias”. Desde a volta à Casa Branca, o presidente alternou cobranças a Kiev, suspensão temporária de ajuda militar e adiamentos sucessivos de sanções mais duras à Rússia. Nas últimas semanas, classificou o encontro como uma “conversa exploratória” e declarou que saberá em minutos se um acordo é possível. Ainda assim, voltou a falar em “troca de territórios”, conceito que gera apreensão entre ucranianos e parceiros europeus.

Líderes da União Europeia e Zelensky conversaram com Trump na quarta-feira na tentativa de evitar um entendimento que exclua Kiev ou imponha concessões territoriais. Mesmo sem detalhar propostas, o presidente norte-americano mantém o objetivo de apresentar-se como mediador capaz de encerrar um dos principais conflitos atuais, aspiração que se alinha ao desejo declarado de conquistar reconhecimento internacional, como um eventual Prêmio Nobel da Paz.

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Imagem: bbc.com

Diante desse cenário, analistas em Washington e Moscou advertem que as declarações de Trump variam com rapidez, dificultando prever o desenlace da reunião. Caso surja qualquer avanço que possa ser interpretado como passo rumo ao fim da guerra — ainda que preliminar —, o líder norte-americano tende a divulgá-lo como êxito diplomático.

Cálculos de risco para ambos os lados

Para Putin, permitir que Trump reivindique progresso pode servir de moeda de troca, desde que os termos favoreçam os interesses russos. Ao mesmo tempo, a Rússia mede o risco de aceitar compromissos que limitem sua posição militar ou afetem a política interna, onde o discurso de vitória permanece central.

Trump, por sua vez, equilibra a vontade de mostrar resultados rápidos com a necessidade de preservar o apoio do Congresso e dos aliados europeus. Qualquer concessão considerada excessiva a Moscou pode gerar resistência doméstica e internacional, sobretudo entre parlamentares que defendem a continuidade do apoio militar à Ucrânia.

Com agendas que se cruzam apenas parcialmente, a reunião em Anchorage abre espaço para negociações de alta visibilidade, mas carrega a possibilidade de terminar sem acordo substancial. Ainda assim, o simples gesto de sentar à mesma mesa já redesenha a dinâmica diplomática em torno da guerra na Ucrânia e coloca os dois presidentes no centro das atenções globais nesta sexta-feira.

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