O primeiro encontro presencial entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, em Anchorage, no Alasca, prolongou-se por quase três horas na sexta-feira e terminou sem anúncio de cessar-fogo na guerra da Ucrânia nem de medidas concretas para encerrar o conflito. Apesar da ausência de resultados palpáveis, a reunião marcou a volta de Putin a um palco diplomático ocidental e evidenciou um movimento de reaproximação entre Washington e Moscou.
Putin desembarcou na Base Conjunta Elmendorf-Richardson sob céu nublado e foi recebido por Trump com tapete vermelho, aplausos e um aperto de mão caloroso. O gesto contrastou com o isolamento imposto ao líder russo por boa parte do Ocidente desde a invasão em larga escala da Ucrânia, em 2022. Em um momento não programado, Putin aceitou percorrer o trajeto até o local da reunião na limusine blindada de Trump, deixando de lado o carro oficial de placas de Moscou. Imagens do trajeto, com o presidente russo sorrindo no banco traseiro, circularam rapidamente nas redes sociais.
Minutos após pousar, Putin ouviu um repórter perguntar em voz alta se ele “pararia de matar civis”. O presidente russo limitou-se a encolher os ombros e desviou o olhar. Durante um breve registro fotográfico, outras perguntas foram dirigidas a ambos os líderes, inclusive sobre a possibilidade de um encontro trilateral com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, mas nenhuma foi respondida.
A coletiva que a imprensa aguardava foi substituída por declarações sem espaço para perguntas. De forma incomum, Putin tomou a palavra primeiro. Ele elogiou o “ambiente construtivo de respeito mútuo” e fez um resumo histórico sobre o passado russo do Alasca, antes de citar, já ao final, a “situação na Ucrânia”. Disse haver um “acordo” não detalhado, mas reiterou que as “causas profundas” do conflito precisam ser eliminadas para que a paz seja alcançada. A expressão costuma sintetizar exigências consideradas inaceitáveis por Kiev, como o reconhecimento da anexação da Crimeia e de quatro regiões ocupadas, a desmilitarização ucraniana, a neutralidade do país e a realização de novas eleições.
Ao assumir o púlpito, Trump não mencionou diretamente o conflito nem o termo cessar-fogo. Declarou que “cinco, seis, sete mil pessoas por semana” morrem na guerra e que Putin também desejaria o fim do derramamento de sangue. Descreveu o diálogo como “extremamente produtivo”, afirmou haver “muitos pontos de concordância” e classificou o avanço obtido como “grande progresso”, sem fornecer detalhes. Também não reiterou a ameaça de “graves consequências” que havia feito caso não se avançasse rumo à interrupção dos combates. Reconheceu, entretanto, que “ainda não chegamos lá”.

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Com declarações vagas e sem compromissos firmados, ficou claro que o encontro não alterou a situação no campo de batalha nem trouxe rumo novo às negociações. Não houve anúncio de encontro trilateral com Zelensky, tampouco de medidas humanitárias, trocas de prisioneiros ou retirada de tropas. Mesmo assim, as imagens de Trump e Putin apertando as mãos diversas vezes e soldados norte-americanos ajoelhados para ajustar o tapete vermelho reforçaram a percepção de degelo nas relações bilaterais.
Para o Kremlin, o simples fato de a cúpula ocorrer em solo norte-americano já representou vitória diplomática. Em seis meses, Putin passou de persona non grata entre potências ocidentais a convidado recebido com honras de chefe de Estado pelos Estados Unidos. A guerra, no entanto, permanece sem cessar-fogo, e os principais obstáculos — controle territorial e futuro estratégico da Ucrânia — continuam inalterados.
Ao final das falas, Putin fez referência a um argumento recorrente de Trump de que o conflito jamais teria começado se ele estivesse no poder em 2022. Sorrindo, o líder russo concluiu em inglês raro: “Next time in Moscow”. Trump respondeu que poderia “levar críticas” pela ideia, mas “talvez” aceite o convite. Com essa troca, os dois presidentes encerraram a cúpula sem conceder concessões ou prometer compromissos formais, mas deixaram aberta a possibilidade de novo encontro, desta vez na capital russa.