Um levantamento conduzido pela Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres indica que o aumento da sobrevida de pacientes com câncer, observado nos últimos 50 anos na Inglaterra e no País de Gales, não tem beneficiado todos os tipos de tumores da mesma forma. Apesar de resultados expressivos em algumas doenças, como o melanoma, outras continuam registrando índices de mortalidade praticamente inalterados, o que evidencia uma disparidade crescente entre os diferentes cânceres.
Segundo o estudo, metade das pessoas diagnosticadas com qualquer tipo de câncer já pode esperar viver pelo menos 10 anos, o dobro do registrado no início da década de 1970. A melhora global decorre principalmente de avanços terapêuticos e da detecção mais precoce, impulsionada pela expansão de programas de rastreamento e pelo desenvolvimento de medicamentos direcionados.
O melanoma cutâneo é apontado como exemplo emblemático dessa evolução: hoje, mais de 90% dos pacientes vivem pelo menos uma década após o diagnóstico. Entre 1971 e 2018, o câncer de mama também apresentou progresso notável, com a taxa de sobrevida em 10 anos subindo de 42% para mais de 76%. No período, o sistema público britânico introduziu o rastreamento mamográfico e passou a oferecer terapias específicas para subtipos do tumor, fatores decisivos para o ganho de prognóstico.
Em contraste, tumores considerados de difícil detecção — como pâncreas, esôfago, estômago e pulmão — continuam associados a resultados desfavoráveis. O câncer pancreático registra menos de 5% de sobreviventes após 10 anos, praticamente o mesmo patamar observado há meio século. Para esôfago, estômago e pulmão, as taxas permanecem abaixo de 20%, também com avanços limitados desde a década de 1970.
Com isso, a diferença entre os cânceres com melhor e pior prognóstico quase dobrou. Os autores salientam que a ausência de métodos de rastreamento eficazes, a apresentação tardia dos sintomas e a escassez de tratamentos específicos explicam, em grande parte, por que essas doenças letais ficaram “para trás” no mapa de progresso oncológico.
A experiência pessoal do britânico Matt Black, de 60 anos, ilustra esse cenário. Ele perdeu a irmã, vítima de câncer de pâncreas em 2019, duas décadas depois de o sogro ter falecido em decorrência de tumor de esôfago. Posteriormente, foi diagnosticado com câncer de intestino — doença com taxas de sobrevida superiores à média — e recebeu alta após cirurgia rápida, evidenciando a diferença de desfechos entre os diversos tipos tumorais.

Imagem: bbc.com
Embora a tendência geral ainda seja positiva, os pesquisadores observam que o ritmo de avanço desacelerou nos anos 2010. Entre os fatores apontados estão atrasos crescentes para diagnóstico e início de tratamento, situação agravada por pressões sobre o sistema de saúde.
A Cancer Research UK, que financiou a análise, avalia que há necessidade de um plano governamental capaz de acelerar o diagnóstico precoce, reduzir filas e investir em pesquisas que priorizem tumores com baixa sobrevida. A entidade defende, por exemplo, a implantação integral de um programa de rastreamento de câncer de pulmão, considerado estratégico para detectar casos em estágio inicial.
O Departamento de Saúde e Assistência Social afirmou que o cuidado oncológico é prioridade e que já houve redução em alguns tempos de espera. A pasta prepara uma estratégia nacional voltada a elevar as taxas de sobrevivência e a diminuir disparidades entre distintos tipos de câncer, compromisso que deverá ser detalhado em documento a ser divulgado em breve.