Fundador transfere controle da rede de brinquedos The Entertainer para 1.900 funcionários

Novidade

Quem: Gary Grant, fundador da cadeia britânica de lojas de brinquedos The Entertainer.

O quê: Transferência de 100% da propriedade da empresa para um employee ownership trust, que passará a beneficiar os 1.900 empregados com participação nos lucros e influência nas decisões estratégicas.

Quando: A conclusão da transferência está prevista para o próximo mês. As primeiras distribuições significativas aos funcionários são esperadas no exercício fiscal que se encerra em janeiro de 2027.

Onde: Reino Unido, onde a rede mantém 160 lojas físicas, além de parcerias em supermercados e varejistas de moda.

Como: A família Grant cederá integralmente sua participação acionária ao fundo dos empregados. O pagamento pelo capital será feito gradualmente, retirado dos resultados futuros da companhia.

Por quê: Grant afirma que vender a empresa pelo maior lance financeiro não corresponderia aos valores construídos em 44 anos de operação. O objetivo é preservar a cultura interna, baseada em princípios cristãos, e garantir continuidade para funcionários de longa data.

Início modesto, expansão robusta

Gary Grant abriu a primeira loja com a esposa, Catherine, em 1981, na cidade de Amersham, Buckinghamshire. Ele tinha 23 anos, apenas um certificado escolar no currículo e havia sido demitido de um emprego em uma oficina de bicicletas. Um empréstimo bancário permitiu ao casal comprar um pequeno comércio de brinquedos, ponto de partida para o que hoje é considerada a maior rede especializada do Reino Unido.

Atualmente, o grupo soma 160 unidades próprias, presença em mais de 850 lojas da Tesco por meio de um acordo de fornecimento e concessões em 140 filiais da varejista de moda Matalan. Mesmo diante da crise financeira de 2008, da pandemia de Covid-19 e do avanço das compras on-line, a empresa registrou lucro antes de impostos de 6,7 milhões de libras no exercício encerrado em janeiro de 2024.

Modelo de propriedade compartilhada

O employee ownership trust conferirá aos trabalhadores participação nas decisões e no resultado anual. Embora a maior parte do lucro seja gerada no período que antecede o Natal, Grant considera prematuro prever um bônus já neste ano fiscal. Segundo ele, os benefícios mais expressivos devem aparecer somente após a conclusão do primeiro ciclo completo sob a nova estrutura.

Fundador transfere controle da rede de brinquedos The Entertainer para 1.900 funcionários - Imagem do artigo original

Imagem: bbc.com

Quase 400 colaboradores têm mais de dez anos de casa, e cerca de 50 superam duas décadas de serviço. Para o fundador, entregar o controle a esse grupo garante a manutenção da “sensação de negócio familiar” sem comprometer os princípios que norteiam a operação, como o fechamento aos domingos e a destinação de 10% do resultado anual a projetos sociais.

Participação da família e transição executiva

Dois dos quatro filhos do casal atuam na companhia, mas buscaram caminhos profissionais próprios, fator que reforçou a opção pelo fundo dos empregados após extenso processo de sucessão. Há dois anos, a família nomeou o primeiro diretor-executivo externo: Andrew Murphy, vindo da John Lewis Partnership, outra organização britânica marcada pela propriedade compartilhada.

Em novembro, Murphy informou que a rede precisou suspender a abertura de duas novas lojas e congelar contratações administrativas após o governo anunciar aumento na contribuição patronal da Previdência Nacional. Apesar do desafio, ele ressalta que a The Entertainer não possui dívidas de longo prazo nem necessidade imediata de capital externo, resultado de um crescimento “medido e consistente”.

Quando a transferência acionária for concluída, Murphy e a equipe de liderança passarão a controlar a operação de forma independente, embora ainda devam prestar contas ao conselho do fundo dos empregados. Ele reconhece que o modelo limita a capacidade de captação no mercado, mas impede a venda de ativos em benefício pessoal e distribui potencial de ganho a todos os colaboradores.

Próximos passos de Gary Grant

Aos 66 anos, o empresário planeja dedicar mais tempo aos dez netos, a iniciativas de caridade e à recente aquisição de um narrowboat. Ele admite que “desligar o computador” será um processo gradual, já que costuma se referir à empresa como “o quinto filho” da família. Mesmo assim, demonstra confiança no futuro da rede sob a administração dos funcionários e da nova gestão profissional.

Para Grant, a solidez financeira do grupo torna a saída menos dolorosa: “Se o negócio estivesse fragilizado, a decisão seria mais difícil”. A expectativa é de que a transição preserve o legado construído desde 1981 e crie novas oportunidades de crescimento para uma empresa que, segundo o fundador, “prosperou contra todas as probabilidades”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.