Indústria de bioetanol do Reino Unido corre risco de colapso após negativa de apoio governamental

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A indústria britânica de bioetanol entrou em estado de alerta depois que o governo decidiu não conceder auxílio financeiro às duas principais fabricantes do setor. As plantas da Vivergo Fuels, em Hull, e da Ensus, em Redcar, haviam solicitado um pacote de apoio para continuar operando diante da recente remoção de tarifas sobre etanol importado dos Estados Unidos. Sem recursos públicos, as empresas afirmam que serão obrigadas a encerrar as atividades, o que poderia desestruturar toda a cadeia de produção de combustíveis renováveis no país.

O impasse se agravou em maio, quando um acordo comercial entre Londres e Washington eliminou a tarifa de 19% sobre o etanol norte-americano, liberando a entrada de até 1,4 bilhão de litros por ano — volume equivalente ao consumo atual do mercado doméstico. Vivergo e Ensus argumentam que a mudança tornou seus negócios economicamente inviáveis e apresentaram ao governo propostas para restabelecer a lucratividade, mas não obtiveram êxito.

Em comunicado, a controladora da Vivergo, Associated British Foods (ABF), classificou a decisão como “lamentável” e alertou que o fechamento da unidade significará a perda de um “ativo nacional estratégico”. A Ensus, que pertence a um grupo alemão, declarou que também avalia encerrar sua operação, embora ainda não tenha oficializado um cronograma.

As duas fábricas empregam 270 funcionários diretamente, porém o impacto pode atingir milhares de postos de trabalho indiretos, incluindo produtores rurais, transportadoras e empresas fornecedoras de insumos. Além da produção de bioetanol, a Ensus responde por cerca de 30% do dióxido de carbono industrial utilizado em bebidas gaseificadas, hospitais e usinas nucleares no Reino Unido. O governo afirmou que seguirá monitorando a cadeia de CO2 para garantir o fornecimento do gás.

Em nota oficial, o Departamento de Negócios e Comércio informou que analisou as contas das companhias desde junho e concluiu que um repasse de recursos não traria “valor ao contribuinte” nem resolveria as “dificuldades estruturais” do segmento. A pasta acrescentou que trabalhará com sindicatos, autoridades locais e as próprias empresas para oferecer apoio aos empregados caso as plantas sejam desativadas.

O bioetanol britânico é produzido a partir de trigo, milho ou beterraba-açucareira e misturado à gasolina E10 vendida nos postos do país. Representantes da indústria afirmam que sucessivos adiamentos na adoção de combustíveis com maior teor de etanol reduziram a demanda interna e fragilizaram os balanços das plantas. Além disso, a concorrência com o produto importado, agora isento de tarifas, pressiona os preços e compromete a rentabilidade.

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Imagem: bbc.com

Apesar das dificuldades atuais, o governo estabeleceu a meta de que, até 2030, 10% do combustível consumido pela aviação comercial provenha de fontes sustentáveis, categoria que inclui o bioetanol. Para especialistas do setor, a manutenção da capacidade produtiva doméstica seria essencial para atingir esse objetivo e para reduzir a dependência de importações em um momento de transição energética.

A Vivergo ressaltou que, em condições regulatórias semelhantes às de outras plantas europeias, seu complexo no estuário de Humber poderia se manter lucrativo e impulsionar investimentos bilionários na região. Segundo a empresa, a eventual paralisação provocará deslocamento de empregos e know-how para outros países que oferecem “ambiente regulatório mais estável”.

Enquanto isso, agricultores britânicos acompanham a discussão com preocupação. As destilarias de bioetanol compram grandes volumes de trigo nacional, funcionando como mercado alternativo para a safra e contribuindo para a renda no campo. Caso as compras cessem, produtores terão de buscar novos compradores ou enfrentar excesso de oferta, com reflexos nos preços agrícolas.

Não há prazos definidos para uma decisão definitiva sobre o futuro das duas unidades. Ambas permanecem em operação, mas avaliam cenários de desligamento parcial ou total, dependendo da evolução das conversas com autoridades e possíveis mudanças no ambiente regulatório. Até o momento, o governo não sinalizou qualquer revisão da posição anunciada.

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