Um relatório de parlamentares britânicos recomenda que pessoas com até 21 anos recebam passe livre nos ônibus da Inglaterra, seguindo modelo já adotado na Escócia. O objetivo é ampliar o acesso a emprego, estudo e lazer. Jovens entrevistados relataram que o valor das passagens compromete despesas essenciais, afeta a rotina social e dificulta a saída da casa dos pais.
A proposta surge em meio a debates sobre o custo de vida no país. Segundo o Departamento de Transportes, o governo destina cerca de £1 bilhão em um programa plurianual para aumentar a frequência e a confiabilidade das linhas de ônibus. Ainda assim, passageiros de até 22 anos descrevem dificuldades para arcar com a tarifa atual.
Deslocamento de longa distância para estudar
A estudante Maisy Moazzenkivi, 18 anos, percorre quase duas horas entre Coventry e o colégio quatro vezes por semana. Por possuir passe de pessoa com deficiência em razão de autismo, ela tem desconto, mas o benefício integral começa apenas depois das 9h30. Como precisa chegar às 9h, gasta £8 por dia com o trajeto completo. De acordo com Maisy, essa despesa reduz o orçamento destinado a alimentação durante o dia e impede economia para outras metas, como a compra de itens de lazer.
Impacto no orçamento de jovens trabalhadores
Moradora de Slough, Gracie Moore, 22 anos, desembolsa em torno de £120 por mês para ir e voltar do trabalho de ônibus. Ela atua como assistente administrativa em uma empresa de residências geriátricas e recebe pouco acima do salário mínimo. A passageira afirma que o gasto expressivo com transporte limita tanto a vida social quanto a possibilidade de se mudar da casa dos pais, pois parte considerável da renda vai para a passagem.
Gracie compara a situação britânica com sua experiência anterior em Madri. Lá, utilizava por €8 mensais um cartão jovem que concedia viagens ilimitadas em ônibus, metrô, trem e bonde. Para ela, a diferença evidencia que tarifas menores viabilizam maior mobilidade e independência para quem está no início da carreira profissional.
Despesas de estudantes internacionais
A universitária Nikita Upreti, 20 anos, veio do Nepal para cursar a University College Birmingham. Quando chegou à cidade em setembro de 2024, pagava £49 pelo passe mensal com desconto estudantil. Atualmente, o preço subiu para £53. Mesmo trabalhando 20 horas semanais como garçonete — carga horária máxima autorizada pela instituição —, ela afirma que conciliar aluguel, alimentação e transporte tornou-se mais difícil. Nikita calcula que a gratuidade no ônibus liberaria recursos para compras de supermercado e materiais acadêmicos.

Imagem: bbc.com
Razões apresentadas no relatório parlamentar
Os deputados responsáveis pela recomendação argumentam que o benefício aos menores de 22 anos pode:
- facilitar a chegada de jovens ao primeiro emprego;
- reduzir a evasão escolar e universitária por falta de meios de locomoção;
- diminuir a pressão financeira sobre famílias de baixa renda;
- estimular a utilização do transporte coletivo, contribuindo para metas ambientais.
Na Escócia, programa semelhante entrou em vigor em 2022 e permite viagens gratuitas a habitantes na mesma faixa etária em toda a rede de ônibus. Parlamentares ingleses citam o modelo como referência de expansão do acesso à mobilidade.
Em nota, o Departamento de Transportes ressaltou que o investimento de £1 bilhão financiará a melhoria de itinerários, mas não se comprometeu com a adoção imediata da tarifa zero. A pasta afirma analisar as propostas apresentadas pelo Legislativo.
Enquanto o tema avança no Parlamento, jovens como Maisy, Gracie e Nikita aguardam uma decisão que, segundo eles, pode aliviar o orçamento doméstico e ampliar oportunidades de estudo, trabalho e convívio social.