Chefes de governo europeus manifestaram esperança moderada após uma videoconferência realizada na quarta-feira (12) com o ex-presidente norte-americano Donald Trump, marcada para dois dias antes do encontro dele com Vladimir Putin em uma base militar no Alasca. O diálogo, que incluiu também o vice-presidente JD Vance, reuniu os líderes do Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Finlândia e Polônia, além da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e do secretário-geral da Otan, Mark Rutte.
Durante a ligação, Trump afirmou que pretende negociar um cessar-fogo entre Moscou e Kiev como principal objetivo da reunião de sexta-feira. Segundo os dirigentes europeus, ele concordou que qualquer decisão sobre território deve contar com a participação direta do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e que garantias de segurança para a Ucrânia precisam integrar um eventual acordo.
O presidente francês, Emmanuel Macron, declarou que a conversa permitiu “esclarecer intenções” de Trump e ofereceu oportunidade para que os europeus apresentassem suas expectativas. Ao término, Trump classificou o encontro virtual como “nota dez” e avisou que a Rússia poderá sofrer “consequências muito severas” se não interromper a guerra. Ele acrescentou que, caso o encontro do Alasca avance, planeja marcar rapidamente uma segunda reunião envolvendo tanto Putin quanto Zelensky.
A ainda assim, declarações públicas dos líderes revelam preocupação de que o Kremlin consiga convencer Trump a aceitar concessões territoriais em troca da pausa nos combates. O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, defendeu que “o ponto mais importante é convencer Donald Trump de que não se pode confiar na Rússia”. Já o chanceler alemão, Friedrich Merz, ressaltou que os governantes europeus foram unânimes ao exigir a presença de Kiev em qualquer rodada subsequente de negociações. “Se o lado russo recusar concessões, Estados Unidos e Europa terão de ampliar a pressão”, completou.
O receio europeu foi alimentado por declarações recentes de Trump sobre uma possível “troca de terras” entre a Ucrânia e a Rússia. Em junho de 2024, Putin condicionou um cessar-fogo imediato à retirada das tropas ucranianas das regiões parcialmente ocupadas de Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia, além da renúncia oficial de Kiev à intenção de ingressar na Otan. Tanto Kiev quanto as capitais europeias consideram essas exigências maximalistas e inviáveis. Zelensky argumenta que qualquer território cedido serviria de plataforma para futuras ofensivas russas.
Como forma de mitigar esse risco, vários participantes relataram que o tema das garantias de segurança foi discutido com ênfase. O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, disse ter observado “progresso real” nesse ponto e elogiou o esforço de Trump para destravar negociações que se arrastam há mais de três anos sem perspectiva de solução viável.

Imagem: bbc.com
Desde a primavera, Reino Unido e França lideram a formação de uma “Coalizão dos Dispostos”, grupo de países que se comprometeu a dissuadir novas ofensivas russas. Em nota divulgada após a chamada, o bloco afirmou estar “pronto para desempenhar papel ativo”, inclusive com o envio de uma “força de tranquilização assim que as hostilidades cessarem”. Detalhes sobre tamanho, composição e mandato desse eventual contingente ainda não foram definidos.
Enquanto diplomatas buscam espaço para negociações, a ofensiva russa de verão prossegue. Nas últimas 24 horas, tropas de Moscou avançaram nas proximidades de Dobropillya, na conturbada região de Donetsk. De Kiev, Zelensky relatou a Trump e aos aliados que o presidente russo estaria “blefando” ao minimizar o impacto das sanções econômicas e pediu intensificação das medidas de pressão.
Trump, por sua vez, reconheceu que, mesmo diante de um encontro presencial, talvez não consiga impedir ataques a civis. “Eu converso com ele, mas depois vejo um míssil atingir um asilo ou um prédio residencial”, afirmou, segundo relato de participantes da conferência. “A resposta provavelmente é não”, concluiu ao ser questionado se conseguiria fazer Putin cessar os bombardeios contra a população.
Com a reunião no Alasca marcada para sexta-feira, líderes europeus acompanham de perto a movimentação diplomática. A expectativa é que qualquer avanço dependa da inclusão formal de Kiev e da construção de garantias de longo prazo capazes de conter novas agressões russas, condições que os governos do continente consideram indispensáveis para aceitar um eventual cessar-fogo.