A Presidência francesa determinou prioridade máxima à identificação dos responsáveis por derrubar uma árvore plantada em memória de Ilan Halimi, jovem judeu sequestrado, torturado e assassinado em 2006. A oliveira, instalada há 14 anos na cidade de Épinay-sur-Seine, na região metropolitana de Paris, foi encontrada cortada na manhã de quinta-feira, 48 horas depois de ter sido vista intacta pela última vez.
O presidente Emmanuel Macron anunciou que todos os recursos do Estado serão mobilizados para localizar e responsabilizar os autores do ato. Segundo o chefe de governo, a derrubada da árvore constitui uma nova tentativa de apagar a memória da vítima. O ministro do Interior, Laurent Nuñez, confirmou a abertura de inquérito pela Direção da Polícia de Paris e afirmou que a investigação trabalha com a hipótese de motivação antissemita.
Halimi, então com 23 anos, foi sequestrado em fevereiro de 2006 após ser atraído a um apartamento vazio por uma integrante da chamada gangue dos Bárbaros. O grupo, comandado por Youssouf Fofana, manteve o jovem amarrado, dopado e submetido a torturas durante mais de três semanas, exigindo resgate de 450 mil euros (aproximadamente 600 mil dólares ou 405 mil libras) de sua família. A exigência foi acompanhada de fotos e vídeos em que Halimi aparecia brutalmente ferido.
Sem conseguir o dinheiro, os sequestradores abandonaram o refém próximo a uma linha férrea no subúrbio parisiense de Sainte-Geneviève-des-Bois. A vítima foi encontrada nua, algemada a uma árvore e com extensas queimaduras, morrendo pouco depois em um hospital. O crime chocou o país e foi classificado pelas autoridades como motivado por antissemitismo, já que Fofana escolheu Halimi por acreditar que famílias judias teriam recursos financeiros elevados.
Em 2009, a Justiça francesa condenou Fofana à prisão perpétua, com período mínimo de 22 anos antes de qualquer possibilidade de revisão de pena. Outros cúmplices receberam sentenças menores, variando de alguns anos de detenção a pouco mais de uma década, dependendo do grau de envolvimento.
A oliveira de Épinay-sur-Seine integra uma série de memoriais erguidos na capital e arredores para homenagear Halimi. Fotografias divulgadas pela prefeitura local mostram o tronco cortado rente ao solo e a copa jogada em um canteiro próximo. O município registrou que o vandalismo ocorreu na madrugada de quarta para quinta-feira.
Macron declarou que a França mantém compromisso inabalável com a defesa de seus cidadãos judaicos e que qualquer manifestação de ódio será combatida sem complacência. O primeiro-ministro François Bayrou, em comunicado, também atribuiu o ato a motivações antissemitas e ressaltou a responsabilidade do governo em preservar a memória das vítimas.

Imagem: Internet
O corte da árvore não é o primeiro ataque contra memoriais ligados a Halimi. Em 2019, outra oliveira dedicada ao jovem foi igualmente derrubada em circunstâncias semelhantes, fato reconhecido na época pelo governo como atentado antissemita. Dois anos antes, em 2017, uma placa comemorativa instalada em Paris foi arrancada de um muro e coberta por inscrições hostis, ato que levou o então ministro do Interior a condenar publicamente a profanação.
Segundo dados do Ministério do Interior, casos de antissemitismo vêm sendo monitorados com atenção crescente na França, que abriga uma das maiores comunidades judaicas da Europa. O governo mantém programa de proteção reforçada a sinagogas, centros culturais e monumentos, além de ações educativas contra discursos de ódio.
No caso específico da oliveira de Épinay-sur-Seine, peritos analisam imagens de câmeras de segurança e vestígios deixados no local. A investigação considera também relatos de moradores sobre movimentação suspeita durante a madrugada. Ainda não há prazo divulgado para conclusão do inquérito, mas autoridades indicam que novas medidas de segurança poderão ser adotadas em memoriais vulneráveis.
A família de Ilan Halimi não comentou publicamente o episódio até o momento. Entidades judaicas, por sua vez, emitiram notas ressaltando a necessidade de vigília permanente contra atos de ódio e convocaram manifestações pacíficas em memória da vítima.
Com o avanço das investigações, o governo pretende demonstrar que a destruição do memorial não irá suprimir a lembrança de Halimi nem enfraquecer a luta contra o antissemitismo no país.