Após pior início ofensivo da carreira, Mookie Betts muda foco para impulsionar Dodgers

Sportes

Mookie Betts reconhece que suas estatísticas de 2024 dificilmente alcançarão os padrões habituais. Mesmo assim, o jogador de 32 anos adotou uma estratégia diferente: concentrar-se em pequenas vitórias diárias capazes de ajudar o Los Angeles Dodgers a permanecer na briga pelo título. A mudança de mentalidade ocorre após quatro meses abaixo da média da liga, marcados por problemas de saúde, luto familiar e a transição para a posição de shortstop.

Desde o início da temporada, Betts enfrentou obstáculos inesperados. Um vírus estomacal contraído durante a viagem de abertura à Série de Tóquio provocou a perda de cerca de nove quilos e o afastamento dos dois jogos realizados no Japão. Retornou com força, somando seis rebatidas e três home runs nos quatro primeiros confrontos nos Estados Unidos, mas o déficit de peso afetou sua mecânica de swing. Para gerar potência, passou a girar o corpo em torno da bola, escapando do movimento de “ficar dentro” que sempre caracterizou seu contato.

Os reflexos foram imediatos: ainda em abril, acumulou sequência de 6 acertos em 44 oportunidades, com apenas uma rebatida extrabase. Maio terminou com OPS de .738, número já inferior à média da carreira. Junho trouxe mais contratempos: ao levantar-se de madrugada, o atleta fraturou um dedo do pé, o que coincidiu com OPS de .633. Em julho, enquanto lidava com o falecimento do padastro, o índice despencou para .586 e veio a pior marca individual, uma série de 22 idas ao bastão sem registrar rebatida.

As dificuldades não se limitaram ao bastão. Convertido em shortstop em tempo integral pela primeira vez desde as ligas de desenvolvimento, Betts passou a dedicar horas de trabalho extra em campo e na gaiola de rebatidas. A mudança rendeu resultado defensivo: de acordo com o índice “defensive runs saved”, ele figura entre os cinco melhores da MLB na posição. Ofensivamente, porém, seu OPS de .684 é o quinto mais baixo entre os shortstops qualificados e o menor de toda a carreira — em 11 temporadas anteriores, jamais terminara abaixo de .800.

Com 41 partidas restantes na fase regular, apenas um dos objetivos estabelecidos por Betts em janeiro permanece viável: conquistar outra World Series. O time, segundo colocado na Divisão Oeste da Liga Nacional, inicia contra o San Diego Padres a primeira de seis partidas decisivas num intervalo de dez dias. A comissão técnica entende que qualquer reação coletiva passa por uma retomada do camisa 50, titular indiscutível da segunda posição no lineup.

Os números recentes apontam uma possível virada. Betts emendou sequência de oito jogos com pelo menos uma rebatida — a mais longa do ano — e somou 14 acertos nesse período, superando o total obtido nas 21 partidas anteriores. Nos últimos seis confrontos, impulsionou sete corridas, igualando o volume registrado nos 29 compromissos precedentes. O técnico de rebatidas Robert Van Scoyoc destaca que o atleta voltou a atacar a bola pela parte interna, convertendo contatos em linha ao invés de roladas para o lado puxado.

O processo de ajuste contou com auxílio de antigos companheiros. Em agosto, o rebatedor designado J.D. Martinez — atualmente sem clube — passou algumas horas na caverna de Tampa analisando vídeos ao lado do ex-colega de Boston. Dias depois, o primeira base Freddie Freeman identificou desalinhamento de ombros no swing. Durante jogos, Freeman passou a sinalizar discretamente para que Betts mantivesse a linha do tronco, tentativa que, segundo os envolvidos, contribuiu para estabilizar o movimento.

Apesar da carga adicional de treinos e da exigência física do shortstop, o próprio Betts evita associar a mudança de posição aos problemas ofensivos. Ele argumenta que são esferas distintas do jogo e prefere descartar justificativas externas, optando por assumir responsabilidade direta pelos resultados. Dados avançados reforçam a visão de que parte do insucesso decorre de variáveis fora de seu controle: taxa de “chase” levemente superior, porém ainda melhor que a média, e níveis de strikeouts e whiffs entre os mais baixos da liga indicam disciplina no prato; por outro lado, índices de “barrel” e hard-hit atingem mínimas pessoais, sugerindo perda de força no contato.

No vestiário, colegas demonstram confiança. Clayton Kershaw afirma que o elenco apoia o companheiro e espera que a produção ofensiva volte a acompanhar a contribuição defensiva. Freeman, locado ao lado de Betts, ressalta que críticas externas devem ser ignoradas e lembra que o outfielder convertido é “um dos grandes jogadores de sua geração”.

Com a temporada regular entrando na reta final, o desempenho de Betts continua decisivo para as ambições dos Dodgers. Caso a sequência positiva se consolide, o time poderá recuperar o domínio da divisão e, quem sabe, manter vivo o único objetivo ainda intacto na lista do veterano: levantar o troféu da World Series.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.