Uma palestina de 20 anos, identificada como Marah Abu Zuhri, morreu na manhã de sexta-feira (12) no Hospital Universitário de Pisa, dois dias após chegar em voo humanitário proveniente da Faixa de Gaza. A paciente, descrita pela equipe médica como gravemente desnutrida e com perda significativa de massa muscular, sofreu parada cardíaca menos de 48 horas depois do desembarque na Itália.
Marah foi transferida na madrugada de quarta-feira (10) junto à mãe em ação coordenada pelo governo italiano, que desde o início do conflito entre Israel e Hamas tem removido feridos e doentes do território palestino. Segundo o Ministério das Relações Exteriores da Itália, mais de 180 crianças e adultos já foram levados ao país europeu para receber cuidados hospitalares. Nesta semana, 31 pacientes, acompanhados por familiares, chegaram a Roma, Milão e Pisa; todos apresentam enfermidades congênitas graves, ferimentos ou amputações.
O quadro clínico de Marah Abu Zuhri reforça alertas de agências humanitárias sobre a disseminação da fome em Gaza. As Nações Unidas vêm informando que a população enfrenta níveis generalizados de desnutrição, cenário contestado por autoridades israelenses. Ainda na sexta-feira, o ministério da Saúde administrado pelo Hamas relatou 11 novas mortes ligadas à falta de alimentos, elevando o total de óbitos por causas relacionadas à fome para mais de 250 desde o início da guerra.
Enquanto a Itália amplia seu programa de evacuação médica, parlamentares britânicos pediram ao governo do Reino Unido rapidez na criação de esquema semelhante. Deputados solicitaram a remoção imediata de crianças doentes ou feridas da Faixa de Gaza, citando compromisso assumido pelo primeiro-ministro Keir Starmer semanas atrás. O Ministério do Interior britânico declarou que pretende transferir “alguns centenas” de menores “com celeridade”, mas ressaltou que exames biométricos em pacientes e acompanhantes são necessários antes de qualquer entrada no país.
Paralelamente, Israel anunciou que a partir de domingo (14) fornecerá tendas e itens essenciais para moradores da Cidade de Gaza, antes de realocá-los para áreas classificadas como “zonas seguras”. A medida foi divulgada poucos dias depois de o governo israelense afirmar que suas tropas ocuparão setores da capital regional. Desde então, o bairro de Zeitoun, o maior do município, é alvo de bombardeios intensos, fogo de artilharia e operações de demolição.
A prefeitura local descreveu a situação em Zeitoun como “catastrófica”, com deslocamento massivo de civis após seis dias consecutivos de ataques. Relatórios do ministério da Saúde controlado pelo Hamas indicam ao menos 36 mortos apenas no sábado (13) em consequência de investidas israelenses. O Exército de Israel informou que suas operações têm como alvo “terroristas” e que adota medidas para reduzir danos à população. A força militar também questiona a veracidade dos números divulgados por autoridades palestinas ligadas ao Hamas.

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Desde outubro de 2023, quando o conflito escalou, o ministério da Saúde em Gaza registra mais de 60 mil mortos. Israel nega que haja crise generalizada de nutrição e atribui a situação humanitária à atuação do Hamas. Organizações internacionais, por outro lado, apontam restrições na entrada de ajuda, falta de segurança para a distribuição de suprimentos e danos generalizados à infraestrutura como fatores que agravam a escassez de alimentos e medicamentos no território.
Em meio a esse contexto, o caso de Marah Abu Zuhri evidencia as dificuldades enfrentadas por enfermos que conseguem deixar Gaza. Mesmo com o transporte aéreo autorizado, muitos chegam aos hospitais de destino em estado de extrema fragilidade, resultado de meses sem acesso adequado a água, comida e tratamento médico. Equipes de saúde italianas afirmam que outros pacientes evacuados recentemente apresentam condições críticas semelhantes às da jovem palestina.
O governo da Itália informou que seguirá promovendo voos humanitários nas próximas semanas, em cooperação com autoridades egípcias, israelenses e agências das Nações Unidas. A prioridade, segundo o Ministério das Relações Exteriores, será dada a menores de idade com doenças graves e a adultos que necessitam de cirurgias complexas indisponíveis em Gaza.
Enquanto esforços internacionais se intensificam para retirar doentes e feridos, a situação humanitária dentro da Faixa permanece instável, marcada por combates contínuos, deslocamentos em massa e relatos de escassez de itens básicos.