Centenas de milhares de manifestantes reuniram-se em diversas cidades israelenses no domingo para reivindicar a suspensão da guerra em Gaza e um acordo que garanta a libertação dos reféns mantidos pelo Hamas. A maior concentração ocorreu na Praça dos Reféns, em Tel Aviv, epicentro de atos semanais desde o início do conflito.
Os organizadores afirmam que a decisão do governo de ampliar a operação militar e assumir o controle de Gaza City coloca em risco a vida de cerca de 20 pessoas que continuam sob poder do grupo palestino. A preocupação foi reforçada após o gabinete de guerra ter aprovado, há uma semana, o plano que prevê a ocupação total da maior cidade do território e a remoção de seus moradores.
Como parte da mobilização, foi convocada uma paralisação nacional de um dia que fechou estradas, escritórios e universidades em diferentes regiões. Segundo a polícia, quase 40 manifestantes foram detidos durante bloqueios de vias e outras ações de desobediência civil.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu criticou os protestos. Para o chefe de governo, as manifestações tendem a endurecer a posição do Hamas nas negociações e retardam a libertação dos sequestrados. O ministro de extrema-direita Bezalel Smotrich classificou a mobilização como “campanha prejudicial” que favoreceria os objetivos do grupo palestino.
Familiares dos sequestrados lideraram o chamado à paralisação, alegando que apenas um acordo abrangente, acompanhado do fim dos combates, poderá garantir o retorno de todos. Entre eles está Einav Zangauker, mãe de Matan, um dos reféns, que discursou em Tel Aviv defendendo um pacto “viável” para pôr fim ao conflito. Horas antes, circulou nas redes sociais um vídeo de seu filho em cativeiro, aumentando a pressão sobre autoridades israelenses.
No próprio território de Gaza, a intensificação dos bombardeios na região sul de Zeitoun, bairro da capital, levou milhares de residentes a fugir, informou a prefeitura local, administrada pelo Hamas. O órgão descreveu a situação como “catastrófica” após dias de incursões aéreas e terrestres.
A defesa civil de Gaza relatou ao menos 40 mortes em ataques israelenses no sábado. Em comunicado, o Hamas declarou que as forças israelenses mantêm ofensiva contínua nos setores leste e sul da cidade, com foco especial em Zeitoun.

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Diante do aumento das hostilidades, o organismo militar israelense responsável pela coordenação de assuntos civis (Cogat) anunciou a retomada da entrada de tendas fornecidas por agências humanitárias. O objetivo declarado é abrigar civis deslocados que, segundo o plano de Tel Aviv, deverão ser transferidos para acampamentos no sul do enclave.
A proposta do governo inclui o deslocamento forçado de aproximadamente um milhão de moradores de Gaza City, mas ainda não há cronograma divulgado para a incursão terrestre definitiva. Netanyahu teria manifestado intenção de assumir o controle completo da cidade a partir de 7 de outubro, data que marca o início do atual ciclo de violência.
Dados da ONU apontam que 1,9 milhão de pessoas — cerca de 90 % da população de Gaza — já abandonaram suas casas. O organismo alerta para a escassez generalizada de alimentos e indicações de desnutrição em larga escala, ressaltando que um cenário de fome em toda a faixa está em curso.
O conflito foi desencadeado pelo ataque do Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023, que resultou em aproximadamente 1.200 mortes e 251 sequestros. Desde então, a contra-ofensiva israelense deixou mais de 61.000 palestinos mortos, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, cujos números são considerados confiáveis pelas Nações Unidas.