A Universidade de Michigan e quatro ex-integrantes da sua comissão técnica receberam punições expressivas da NCAA após a investigação sobre um esquema de espionagem de sinais de adversários na temporada de 2022. O relatório, divulgado na manhã de sexta-feira, concluiu que o programa obteve acesso indevido às indicações de jogadas de outras equipes e que os responsáveis dificultaram as apurações, destruindo materiais relevantes e fornecendo informações falsas.
Jim Harbaugh, treinador principal dos Wolverines entre 2015 e 2023, foi enquadrado em uma ordem de show-cause de dez anos, válida a partir de 7 de agosto de 2028. Durante esse período, qualquer instituição que deseje contratá-lo precisará demonstrar à NCAA por que ele deve ser liberado para exercer atividades relacionadas ao esporte. O técnico, que atualmente dirige o Los Angeles Chargers na NFL, já havia cumprido suspensão de três partidas imposta pela Big Ten no fim da temporada de 2023.
Sherrone Moore, sucessor de Harbaugh no cargo e coordenador ofensivo à época dos acontecimentos, ficará submetido a uma ordem de show-cause de dois anos. Além disso, cumprirá suspensão de um jogo em 2026, acumulando penalidades a outras duas partidas pelas quais já fora afastado pela própria universidade em 2025. Moore comandou Michigan interinamente durante a ausência de Harbaugh em 2023 e assumiu o posto em definitivo em 2024, campanha encerrada com oito vitórias e cinco derrotas (5-4 na Big Ten).
O ex-analista Connor Stalions, apontado como articulador central do esquema, recebeu uma ordem de show-cause de oito anos. Já Denard Robinson, então diretor de pessoal de jogadores, foi punido com três anos de show-cause. Conforme o relatório, todos os quatro foram classificados como “trigger repeat violators” por reincidência e falta de cooperação.
Além das medidas individuais, a NCAA impôs ao programa de futebol americano da universidade:
- Quatro anos de liberdade condicional (probation) para a modalidade;
- Multa imediata de US$ 50 mil;
- Redução de 25% nas visitas oficiais de recrutamento para a temporada de 2025;
- Proibição de 14 semanas de comunicação de recrutamento durante o período de probação.
Paralelamente, a ESPN informou que a instituição deve ser multada em mais de US$ 20 milhões, valor ainda sujeito a confirmação. As sanções financeiras somam-se às restrições esportivas e administrativas, impactando diretamente o planejamento de elenco nos próximos ciclos de recrutamento.
O esquema veio à tona durante a temporada de 2023, quando investigações internas e externas descobriram que membros do staff obtinham gravações e observações presenciais de sinais de adversários da Big Ten. Stalions, contratado em 2017, teria coordenado as operações clandestinas e foi desligado logo após a descoberta. O treinador de linebackers Chris Partridge também foi demitido, acusado de envolvimento no método ilícito.

Imagem: foxsports.com
Mesmo sem Harbaugh nas três últimas rodadas da temporada regular de 2023, Michigan venceu os compromissos, conquistou o título da conferência e, posteriormente, o campeonato nacional com campanha invicta (15-0), feito inédito na instituição desde 1997. Pouco depois, Harbaugh anunciou a saída do ambiente universitário para assumir o comando técnico do Los Angeles Chargers, decisão que não interfere nas punições da NCAA enquanto ele permanecer na NFL.
As ordens de show-cause não impedem automaticamente a contratação dos punidos, mas obrigam eventuais empregadores a apresentar justificativas formais e aceitar possíveis restrições adicionais impostas pela NCAA. Caso as condições não sejam cumpridas, novas violações poderão agravar as sanções contra a instituição envolvida.
Com as medidas anunciadas, Michigan terá de equilibrar o impacto financeiro, o corte de visitas de atletas e a limitação de contatos de recrutamento, ao mesmo tempo em que gerencia a continuidade técnica de Sherrone Moore, agora sujeito a supervisão reforçada pelo órgão regulador. O período de probação estende-se por quatro anos, exigindo relatórios regulares à NCAA e cumprindo integralmente as reduções e suspensões determinadas.
Os desdobramentos reforçam a postura da entidade contra práticas consideradas antiéticas no ambiente universitário, sobretudo em um cenário em que a coleta de sinais adversários, embora não seja totalmente proibida, precisa seguir parâmetros estritos. A decisão final deixa em aberto a possibilidade de sanções adicionais caso novas infrações venham a ser detectadas durante o período de monitoramento imposto à universidade.