As conversas promovidas pelas Nações Unidas para criar um tratado internacional de combate à poluição plástica terminaram sem acordo, prolongando um impasse que já dura quase três anos. A sexta rodada de negociações, realizada nesta semana, estava prevista para encerrar-se na quinta-feira, mas prosseguiu pela madrugada de sexta na tentativa de superar divergências centrais entre os países.
Cerca de 100 nações, entre elas membros da União Europeia e o Reino Unido, defendem a inclusão de metas para reduzir a produção de plástico e regras de design que facilitem a reciclagem. Do outro lado, grandes produtores de petróleo, como Arábia Saudita e Rússia, insistem em concentrar o tratado em gestão de resíduos e ampliação da reciclagem, sem impor limites à fabricação de novos materiais.
O processo foi iniciado em 2022 após estudos indicarem riscos crescentes dos microplásticos para a saúde humana e para o meio ambiente. A produção global passou de dois milhões de toneladas em 1950 para aproximadamente 475 milhões em 2022, tendência que deve prosseguir se não houver novas medidas. Entretanto, apenas cerca de 10% dos resíduos plásticos são efetivamente reciclados.
No encontro mais recente, o presidente das negociações, o diplomata equatoriano Luis Vayas, apresentou um rascunho de texto considerado mais alinhado às reivindicações do grupo favorável a restrições. O documento não estabelecia um teto de produção, mas mencionava a adoção de ações nacionais para enfrentar substâncias químicas perigosas e padronizar produtos, como a definição de cores únicas para garrafas, o que aumentaria seu valor de revenda.
A proposta recebeu avaliação positiva da delegação europeia, que a classificou como base aceitável para futuras discussões. Entretanto, representantes de países exportadores de petróleo criticaram o processo, alegando que suas posições não foram refletidas de forma adequada.

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Entidades empresariais também se dividiram. Fabricantes de embalagens, a exemplo de Nestlé e Unilever, apoiam diretrizes mais uniformes de design e a criação de taxas de responsabilidade estendida do produtor, mecanismo capaz de dobrar receitas estaduais para reciclagem até 2040, estimadas em US$ 576 bilhões. Já associações da indústria petroquímica alertam que restringir a matéria-prima pode gerar escassez de produtos considerados essenciais.
Países insulares, representados por Palau, manifestaram frustração com a falta de avanços, argumentando que têm pouca participação na geração do problema, mas sofrem impactos diretos da poluição marinha. Delegados de Cuba qualificaram o resultado como oportunidade histórica perdida, embora tenham defendido a continuidade das tratativas.
Sem consenso, o presidente da mesa adiou a decisão para uma data ainda não definida. A ausência de acordo amplia o atraso em relação ao cronograma original, que previa a finalização do texto até o fim de 2023. O próximo encontro deverá retomar os temas que seguem polarizando as delegações: limites à produção, padronização de produtos, financiamento da reciclagem e eliminação de substâncias tóxicas.