ONU condena ataque israelense que matou seis jornalistas em Gaza

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A Organização das Nações Unidas classificou como violação grave do direito internacional o bombardeio israelense que matou seis profissionais da imprensa em Gaza no domingo (30). Cinco das vítimas integravam a equipe da Al Jazeera, entre elas o correspondente Anas al-Sharif. Um jornalista freelancer também morreu.

Segundo o Exército israelense, o alvo principal era Sharif, acusado de liderar uma célula do Hamas. As Forças de Defesa de Israel afirmam possuir documentos que comprovariam o vínculo do repórter com o grupo, incluindo listas de pessoal, registros de treinamento e planilhas de salários. Até o momento, porém, apenas capturas de tela de supostos arquivos foram divulgadas, e não há comprovação independente de que Sharif mantivesse participação ativa no conflito ou em operações do Hamas.

A investida ocorreu em Gaza City, quando um míssil atingiu a tenda usada pela equipe de reportagem. Além de Sharif, morreram os correspondentes Mohammed Qreiqeh e os cinegrafistas Ibrahim Zaher, Mohammed Noufal e Moamen Aliwa. Médicos do hospital al-Shifa identificaram o freelancer Mohammad al-Khaldi como a sexta vítima. Outra pessoa que estava próxima ao local também perdeu a vida.

Na segunda-feira (1º), milhares de moradores compareceram aos funerais, que percorreram ruas lotadas de Gaza. Sharif era amplamente conhecido na região e mantinha milhões de seguidores em redes sociais. Em publicações recentes, ele havia criticado a condução do Hamas antes de ser morto.

Reações internacionais e pedidos de investigação

O ataque provocou forte repúdio de organizações de defesa da imprensa. A Repórteres Sem Fronteiras denunciou o incidente como assassinato deliberado. A Associação da Imprensa Estrangeira afirmou que o exército israelense rotula repetidamente jornalistas palestinos como militantes sem fornecer provas verificáveis. O Comitê para a Proteção dos Jornalistas declarou que Israel mantém histórico de acusar repórteres de terrorismo sem apresentar evidências consistentes.

Governos de diversos países também se manifestaram. O Reino Unido expressou “grave preocupação” e reforçou a necessidade de uma investigação independente. O Qatar, onde fica a sede da Al Jazeera, condenou o bombardeio. A ONU reiterou que todos os civis, inclusive profissionais da mídia, devem ser protegidos e solicitou acesso imediato, seguro e irrestrito de jornalistas à Faixa de Gaza.

Número recorde de jornalistas mortos

Desde o início da ofensiva israelense em resposta aos ataques de 7 de outubro de 2023, pelo menos 186 jornalistas foram mortos, de acordo com o CPJ. Trata-se do período mais letal para profissionais da imprensa desde que a entidade começou a compilar dados, em 1992.

A escalada se dá em meio a restrições impostas por Israel à entrada de correspondentes internacionais no território. Sem autorização para cobrir os acontecimentos livremente, veículos estrangeiros dependem de repórteres baseados em Gaza para relatar a situação no enclave.

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Imagem: bbc.com

Cenário humanitário agrava-se

Paralelamente, a crise humanitária se aprofunda. O Ministério da Saúde administrado pelo Hamas informou que cinco pessoas — incluindo uma criança — morreram de desnutrição nas últimas 24 horas, elevando para 222 o total de óbitos por fome desde outubro, dos quais 101 eram menores de idade. A agência humanitária da ONU afirma que a quantidade de ajuda que entra na Faixa permanece muito abaixo do mínimo necessário para atender às necessidades básicas da população.

No fim de março, um grupo de quatro grandes agências de notícias — BBC, Reuters, AP e AFP — divulgou comunicado conjunto alertando para a dificuldade dos jornalistas locais em obter alimentos para si e para suas famílias. Israel nega que haja fome em Gaza e responsabiliza organizações internacionais por atrasos na retirada de suprimentos nas zonas de controle israelense nas fronteiras.

Desde o início da campanha militar israelense, o ministério de saúde de Gaza contabiliza 61.430 mortos. Do lado israelense, o atentado de 7 de outubro deixou cerca de 1.200 vítimas fatais e resultou no sequestro de 251 pessoas, segundo autoridades de Israel.

Falta de explicações sobre morte de toda a equipe

Até o momento, as autoridades israelenses não apresentaram justificativa para o ataque ter resultado na morte de todos os profissionais que estavam na tenda da Al Jazeera. A ausência de explicações detalhadas reforça a pressão internacional por responsabilização e transparência.

Enquanto governos e entidades exigem esclarecimentos, familiares e colegas dos jornalistas mortos enterram seus mortos em meio às hostilidades que persistem na região. A ONU reiterou que o direito humanitário internacional proíbe ataques deliberados contra civis e que a proteção da imprensa é essencial para garantir informação confiável sobre conflitos armados.

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