A desenvolvedora de inteligência artificial Perplexity apresentou uma proposta de US$ 34,5 bilhões (cerca de € 25,6 bilhões) para adquirir o Google Chrome, navegador que contabiliza mais de três bilhões de usuários em todo o mundo. O valor foi comunicado em carta endereçada a Sundar Pichai, executivo-chefe da Alphabet, controladora do Google.
No documento, a startup argumenta que a transferência do Chrome para uma empresa independente e “comprometida com a segurança do usuário” beneficiaria o público. A iniciativa ocorre em um momento de forte pressão regulatória sobre o Google, que enfrenta um processo antitruste conduzido pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos desde 2020. A ação alega prática de monopólio nos mercados de busca on-line e publicidade digital.
Uma decisão preliminar do caso é aguardada ainda neste mês em tribunal federal norte-americano. Entre as potenciais sanções, analistas mencionam a possibilidade de separação de unidades de negócio, cenário que alimenta especulações sobre um eventual desmembramento do Chrome. A Alphabet, contudo, não divulgou planos de venda e tem sinalizado que recorrerá judicialmente a qualquer ordem para cindir o navegador, classificando a medida como “sem precedentes” e prejudicial a consumidores e à segurança da plataforma.
Especialistas do setor avaliam que a oferta da Perplexity enfrenta obstáculos significativos. Para Tomasz Tunguz, sócio da Theory Ventures, o lance subestima o ativo: segundo o investidor, o verdadeiro valor do Chrome pode chegar a “dez vezes” o montante proposto. Além disso, não está claro como a startup, avaliada em aproximadamente US$ 18 bilhões em julho, financiaria uma aquisição de porte muito superior a seu valor de mercado. A companhia não detalhou fontes de recursos nem parceiros potenciais.
Embora reconheça que o Google deve permanecer como buscador padrão do navegador caso o negócio avance, a Perplexity indica que os usuários poderiam ajustar livremente as configurações para escolher outros serviços de busca. A empresa também se compromete a manter e desenvolver o Chromium, projeto de código aberto que serve de base não só para o Chrome, mas também para browsers como Microsoft Edge e Opera.
Fundada em 2022, a Perplexity ganhou notoriedade no segmento de IA generativa ao lançar uma plataforma que responde perguntas e resume conteúdos de forma conversacional, competindo com produtos como ChatGPT, da OpenAI, e Gemini, do próprio Google. No mês passado, a empresa expandiu seu portfólio com o navegador Comet, alimentado por inteligência artificial para aprimorar experiência de leitura e pesquisa de informações.

Imagem: bbc.com
O movimento atual não é o primeiro em que a startup demonstra apetite por ativos de grande escala. No início do ano, a Perplexity ofereceu-se para comprar a operação norte-americana do TikTok, aplicativo que sofre pressão legislativa nos Estados Unidos para trocar de controlador ou deixar de operar no país. Além disso, notícias de mercado apontam que gigantes como Apple e Meta já sondaram possibilidades de parceria ou investimento na companhia de IA.
A Alphabet foi procurada para comentar a proposta, mas não havia se pronunciado até o momento da publicação. Mesmo que eventual decisão judicial imponha a venda do Chrome, o fechamento de um acordo dependeria de múltiplas etapas regulatórias e da anuência dos acionistas da controladora do Google, processo que, segundo analistas, poderia se estender por anos.
Caso a operação se concretize, o Chrome passaria a ser administrado por uma empresa cujo core business está focado em inteligência artificial. A Perplexity defende que tal configuração fortaleceria a concorrência no mercado de navegadores e preservaria a continuidade de recursos para a base global de usuários. Entretanto, especialistas lembram que, além de questões financeiras, a transferência envolveria desafios técnicos, contratuais e de preservação de dados, fatores que tornam a proposta incerta.
Por ora, a oferta de US$ 34,5 bilhões marca mais um capítulo na crescente discussão sobre regulação de tecnologia e concentração de mercado. A evolução do processo antitruste contra o Google e a eventual receptividade da Alphabet à proposta deverão determinar os próximos desdobramentos.