Recifes de corais ao longo de 1.500 km da costa da Austrália Ocidental sofreram, entre agosto de 2024 e maio de 2025, o pior evento de branqueamento já documentado na região. A ocorrência coincide com o que cientistas classificam como a mais longa, extensa e intensa onda de calor marinho registrada no estado, resultado direto de temperaturas oceânicas acima da média por um período prolongado.
Nesse intervalo, o aumento persistente da temperatura da água impôs forte estresse térmico sobre ecossistemas até então considerados relativamente resilientes. O fenômeno levou grande parte dos corais a expulsar as algas que lhes fornecem energia e coloração, processo conhecido como branqueamento e que, frequentemente, culmina na morte dos organismos caso as condições ambientais não se normalizem.
De acordo com levantamentos preliminares do Instituto Australiano de Ciência Marinha (AIMS, na sigla em inglês), o choque térmico desta temporada foi sem precedentes em duração, intensidade e extensão geográfica. O instituto relata que recifes distribuídos tanto no noroeste como na faixa central do litoral foram expostos a níveis críticos de estresse durante semanas consecutivas, ultrapassando marcas já consideradas letais para muitas espécies de coral.
Historicamente, oito semanas de calor excessivo são suficientes para comprometer irreversivelmente um recife. Dados iniciais indicam que, no presente episódio, várias áreas enfrentaram entre 15 e 30 semanas de estresse contínuo, patamar muito acima do limiar de sobrevivência. A avaliação detalhada dos impactos levará meses, pois é necessário medir mortalidade, taxa de recuperação e mudanças na composição das comunidades marinhas.
A abrangência do evento afetou inclusive recifes que raramente apresentavam sinais de branqueamento em outras crises climáticas. Entre os locais atingidos estão Rowley Shoals, North Kimberley e, sobretudo, Ningaloo, unidade de patrimônio mundial reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Esses sistemas serviam de referência para a resistência de corais a variações moderadas de temperatura, mas agora exibem danos significativos.
O AIMS confirma que a temporada 2024-2025 superou todas as estatísticas anteriores de branqueamento na Austrália Ocidental. O episódio também se insere em um evento global de branqueamento que já se estende por dois anos, alimentado por recordes sucessivos de calor nos oceanos em diversas bacias.

Imagem: bbc.com
Além das consequências diretas sobre a biodiversidade, o cenário ameaça atividades de turismo costeiro e pescas artesanais que dependem da saúde dos recifes. Em pronunciamentos recentes, autoridades federais destacaram que a degradação observada em Ningaloo reforça a urgência de ações para limitar o aquecimento global, inclusive o compromisso com metas de emissões líquidas zero.
Os pesquisadores ressaltam que eventos de branqueamento estão se tornando mais frequentes, severos e disseminados devido às mudanças climáticas. Para que um recife se recupere totalmente de um episódio extremo, são necessários de 10 a 15 anos de condições estáveis. A repetição desses fenômenos em intervalos menores impede a regeneração completa, o que eleva o risco de colapso permanente.
Relatórios internacionais alertam que, mesmo que o aquecimento médio global seja limitado a 1,5 °C em relação aos níveis pré-industriais, entre 70% e 90% dos recifes tropicais poderão desaparecer. Esse prognóstico coloca pressões adicionais sobre políticas de mitigação climática e sobre estratégias locais de manejo de áreas marinhas protegidas.
Nos próximos meses, equipes de pesquisa realizarão mergulhos e análises de satélite para mapear com precisão a extensão da mortandade, monitorar possíveis focos de recuperação natural e orientar medidas de conservação. Os resultados preliminares já indicam que a onda de calor marinho de 2024-2025 representa um marco negativo sem precedentes para os recifes da Austrália Ocidental, ampliando o desafio de preservar um dos ecossistemas mais ricos em biodiversidade do planeta.