Putin reforça aliança com Coreia do Norte às vésperas de reunião com Trump

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O presidente da Rússia, Vladimir Putin, conversou por telefone com o líder norte-coreano, Kim Jong-un, na terça-feira, fortalecendo publicamente os laços entre Moscou e Pyongyang poucos dias antes de sua viagem ao Alasca para o primeiro encontro presencial com Donald Trump desde a invasão russa da Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022.

Segundo comunicado do Kremlin, Putin e Kim “reafirmaram o compromisso com o desenvolvimento das relações de amizade, boa vizinhança e cooperação”. O dirigente russo elogiou o apoio militar fornecido pela Coreia do Norte à campanha russa na Ucrânia e relatou a Kim detalhes dos preparativos para o encontro com o ex-presidente norte-americano, marcado para sexta-feira. A nota oficial norte-coreana confirmou a conversa, mas não mencionou a troca de informações sobre a cúpula no Alasca.

Cooperação militar em expansão

A guerra intensificou a aproximação entre Rússia e Coreia do Norte. Autoridades de Ucrânia e Coreia do Sul estimam que ao menos 10 mil soldados norte-coreanos tenham sido enviados para lutar ao lado das tropas russas. Além do efetivo humano, Pyongyang forneceu mísseis, projéteis de artilharia e trabalhadores civis para canteiros de obras em território russo.

Com grande parte de sua força de trabalho mobilizada no front, morta em combate ou fora do país, Moscou tem recorrido a mão de obra estrangeira para suprir escassez em setores estratégicos. Serviços de inteligência sul-coreanos informaram que milhares de trabalhadores norte-coreanos atuam em condições descritas como “semelhantes à escravidão” em projetos de construção na Rússia, tema abordado em reportagem recente da BBC.

Avanços russos no leste da Ucrânia

Enquanto reforçava a cooperação com Kim, o Exército russo registrou novos ganhos territoriais na Ucrânia. Nesta semana, unidades de Moscou avançaram cerca de 10 quilômetros em direção à cidade de Dobropillia, no leste ucraniano, abrindo uma frente repentina que pressiona defesas locais. O movimento ocorre após meses de combate posicional e indica tentativa de consolidar controle sobre regiões já ocupadas, que totalizam aproximadamente 20% do território ucraniano.

Durante a ligação, Putin voltou a agradecer o apoio norte-coreano na “libertação do território da região de Kursk”, referência à breve invasão ucraniana à província russa no ano passado. A ofensiva de Kiev, embora pontual, foi usada por Moscou como justificativa para ampliar pedidos de ajuda a aliados, entre eles Pyongyang.

Isolamento ocidental e novas alianças

As sanções aplicadas pelos Estados Unidos e pela União Europeia desde fevereiro de 2022 levaram a Rússia a buscar parceiros fora do eixo ocidental. A Coreia do Norte, também sob fortes restrições internacionais por causa de seu programa nuclear, tornou-se um dos poucos governos dispostos a fornecer suporte militar aberto a Moscou. Em contrapartida, Kim recebe respaldo diplomático no Conselho de Segurança da ONU e acesso a tecnologias russas de defesa.

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Imagem: bbc.com

Além do apoio em armamentos e tropas, o regime norte-coreano envia contingentes de trabalhadores para obras civis e industriais na Rússia. Relatórios de organizações de direitos humanos apontam que estes cidadãos têm passaportes retidos, sofrem vigilância constante e entregam a maior parte dos salários ao governo de Pyongyang.

Preparação para a cúpula no Alasca

A viagem de Putin ao Alasca representa a primeira conversa direta com Donald Trump desde o início da guerra. Autoridades russas veem a reunião como oportunidade para discutir um possível cessar-fogo, embora Washington mantenha apoio militar a Kiev. Analistas ocidentais observam que a divulgação da conversa com Kim, enfatizando gratidão pelos “sacrifícios” norte-coreanos, sinaliza a Trump que Moscou dispõe de alternativas fora do espectro de influência dos Estados Unidos.

Até o momento, nem Moscou nem Pyongyang detalharam eventuais acordos adicionais firmados durante o telefonema. Contudo, diplomatas em Seul e Kiev avaliam que a cooperação militar tende a se aprofundar, especialmente se a guerra prolongar o isolamento russo. Paralelamente, a Coreia do Norte busca aliviar impactos das sanções econômicas impondo-se como fornecedor de pessoal e armamentos em cenários de conflito.

Com a aproximação da data da cúpula, o Kremlin reforça mensagens de que seus canais de apoio não dependem exclusivamente do diálogo com Washington. A interlocução com Kim Jong-un, divulgada com destaque pela presidência russa, insere-se nessa estratégia de exibir alianças alternativas e manter pressão militar sobre a Ucrânia, enquanto negocia em frentes diplomáticas distintas.

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