A mais recente leitura do mercado de trabalho britânico mostra sinais de perda de fôlego. Entre maio e julho, o número de vagas disponíveis recuou 5,8%, totalizando 718 mil oportunidades, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas (ONS, na sigla em inglês). O órgão apontou redução na abertura de posições em quase todos os setores, sugerindo que muitos empregadores preferiram não contratar ou repor quadros que se desligaram.
Paralelamente, o total de trabalhadores em folha de pagamento apresentou leve queda. De junho para julho, o contingente encolheu em 8 mil pessoas, somando pouco mais de 30 milhões de empregados registrados. Para analistas, esse movimento, embora negativo, confirma um desaquecimento apenas gradual da atividade laboral.
Salários e desemprego praticamente estáveis
Apesar da diminuição nas vagas, outros indicadores permaneceram estáveis. O crescimento médio dos salários seguiu em 5% no período, enquanto a taxa de desemprego ficou inalterada em 4,7%. A combinação de remuneração elevada e desemprego contido indica que a pressão recente sobre o mercado de trabalho perdeu intensidade, mas não provocou deterioração brusca nas condições de emprego.
Para Andrew Sentence, ex-integrante do Comitê de Política Monetária do Banco da Inglaterra, as variações divulgadas se enquadram em um padrão de “resfriamento muito gradual”. Ele observa que, diante de um universo superior a 30 milhões de trabalhadores formalizados, a diminuição de 8 mil postos equivale a um ajuste modesto.
Peso de impostos e salário mínimo nas decisões das empresas
Economistas avaliam que mudanças implementadas em abril na legislação trabalhista e tributária influenciaram o comportamento dos empregadores. Naquele mês, o Salário Mínimo Nacional — chamado no país de National Living Wage — subiu de £11,44 para £12,21 por hora. Ao mesmo tempo, a contribuição patronal para o seguro nacional aumentou de 13,5% para 15%, e o limite de remuneração anual que aciona o pagamento desse encargo caiu de £9.100 para £5.000.
Ashley Webb, economista da consultoria Capital Economics, avalia que a combinação de custo trabalhista mais alto e menor necessidade de mão de obra levou a uma retração “modesta” nas folhas de pagamento. Ele acrescenta que o volume de notificações de demissões coletivas em julho permaneceu “relativamente contido”, sugerindo que a maioria das empresas optou por ajustes pontuais em vez de cortes amplos.

Imagem: bbc.com
Efeito sobre política monetária
A trajetória dos salários e das vagas é observada atentamente pelo Banco da Inglaterra, pois influencia a dinâmica de preços. Salários em elevação tendem a sustentar a inflação, uma vez que ampliam a renda disponível e os custos das empresas. A meta de inflação da autoridade monetária é de 2% ao ano, mas os preços têm subido acima desse nível, impulsionados por alimentos e energia.
Monica George Michail, economista do National Institute of Economic and Social Research, avalia que a redução das vagas deve contribuir para uma desaceleração nos ganhos salariais nos próximos meses. Na sua projeção, esse movimento abrirá espaço para mais um corte na taxa básica de juros ainda em 2024, de 4% para 3,75%, possivelmente em novembro.
Perspectivas
Os dados divulgados reforçam a leitura de que o mercado de trabalho do Reino Unido passa por um ajuste lento, marcado pela diminuição gradual das ofertas de emprego e da força de trabalho ativa, mas sem deterioração brusca no desemprego. A manutenção do crescimento salarial em torno de 5% e o baixo nível de demissões em massa indicam que, até o momento, o impacto das elevações de custos para as empresas não resultou em retração severa. Entretanto, o comportamento futuro das contratações e dos salários seguirá como peça-chave para a política de juros e para a trajetória da inflação nos próximos trimestres.