Cientistas do Imperial College London alertam que centros urbanos do Reino Unido estão sujeitos a uma ameaça emergente batizada de “ondas de fogo”, caracterizada por vários incêndios simultâneos após períodos prolongados de calor e ausência de chuva. O fenômeno ganhou atenção nesta semana, quando bombeiros combateram três focos em áreas de vegetação de Londres e um incêndio de tojo em Arthur’s Seat, em Edimburgo.
A equipe liderada pelo professor de ciência do fogo Guillermo Rein analisou dados de ocorrências do Corpo de Bombeiros de Londres (London Fire Brigade, LFB) acumulados desde 2009, cruzando-os com registros meteorológicos. O grupo concluiu que, após dez dias consecutivos de tempo muito seco, a probabilidade de múltiplos focos crescer significativamente porque a vegetação perde umidade crítica. A métrica central do estudo é o “déficit de pressão de vapor”, indicador da capacidade do ar de extrair água das plantas: quanto maior o déficit, mais fácil é a ignição.
De acordo com Rein, a combinação de calor mais intenso e intervalos secos prolongados, ampliada pelas mudanças climáticas, transforma gramados e arbustos antes considerados incombustíveis em combustível altamente inflamável. O pesquisador prevê novo cenário de risco na capital ainda neste fim de semana, caso as previsões de continuidade do tempo seco se confirmem.
Autoridades locais tratam o tema como prioridade. O assistente do comissário do LFB, Tom Goodall, afirma que qualquer metodologia que antecipe condições favoráveis a incêndios é bem-vinda. O serviço diz ter reforçado equipamentos para enfrentar essa realidade: drones oferecem imagens aéreas em tempo real, aumentando a consciência situacional, e veículos fora de estrada permitem chegar a regiões de charneca ou gramados onde caminhões convencionais não avançam.
O histórico recente mostra como a simultaneidade de ocorrências pode pressionar as equipes. Em 19 de julho de 2022, quando o Reino Unido registrou temperaturas superiores a 40 °C pela primeira vez, o LFB viveu seu dia mais movimentado desde a Segunda Guerra Mundial. Naquela data, chamas atingiram diversos pontos da cidade; no bairro de Wennington, no leste da capital, 37 edificações e cinco carros foram destruídos, e 88 residências precisaram ser evacuadas.

Imagem: bbc.com
A preocupação não se limita à capital inglesa. Rein destaca que outras cidades britânicas e centros urbanos do norte da Europa, historicamente alheios a incêndios florestais, podem enfrentar situação semelhante, pois dispõem de grande quantidade de parques e zonas verdes próximas a áreas residenciais, mas têm pouca experiência institucional em lidar com grandes queimadas.
Com base nessas conclusões, os pesquisadores sugerem que o Met Office, serviço meteorológico nacional, adote oficialmente a expressão “onda de fogo” para complementar os atuais alertas de calor. O objetivo é informar população e gestores públicos sobre períodos de perigo extremo de incêndios em ambientes urbanos, estimulando medidas de prevenção e resposta mais rápidas. O Met Office foi consultado, mas ainda não se pronunciou.