São Paulo – Ícone do cinema britânico dos anos 1960, Terence Henry Stamp morreu nesta quarta-feira (20) aos 85 anos. Conhecido pela intensidade em cena e pela capacidade de interpretar personagens contidos e ameaçadores, o ator construiu carreira que atravessou mais de seis décadas, iniciada com uma indicação ao Oscar e reinventada em sucessos como “Superman” e “Priscilla – A Rainha do Deserto”.
Nascido em Stepney, leste de Londres, em 22 de julho de 1938, Stamp cresceu em família operária. O pai, marinheiro de caldeira frequentemente ausente, e a mãe, que o levava ao cinema local, influenciaram o interesse precoce do garoto pela atuação. Após experiências em agências de publicidade e a negativa para o serviço militar por problemas nos pés, ele conquistou bolsa na Webber Douglas Academy of Dramatic Art, onde abandonou o sotaque cockney.
Nos anos 1950, percorreu o circuito de repertório britânico ao lado de futuros nomes de peso, como Michael Caine, com quem dividiria um apartamento. O salto ocorreu em 1962, quando protagonizou “Billy Budd”, adaptação da novela de Herman Melville. O papel do jovem marujo injustamente enforcado rendeu indicação ao Oscar de ator coadjuvante e o Globo de Ouro de ator revelação.
O reconhecimento inicial abriu portas para produções como “Term of Trial”, ao lado de Laurence Olivier, e “The Collector” (1965), no qual interpretou o sequestrador Frederick Clegg. Fora das telas, tornou-se presença constante na cena de “Swinging London”, namorando figuras como a atriz Julie Christie e a modelo Jean Shrimpton.
Em 1967, contracenou novamente com Christie em “Longe Deste Insensato Mundo”, de John Schlesinger, vivendo o sargento Troy. Apesar de a parceria render cenas marcantes, a recepção crítica fria e desentendimentos com o diretor sinalizaram declínio temporário. Na mesma época, recusou o papel-título em “Alfie”, entregue a Caine, e chegou a ser cogitado para James Bond, proposta descartada após sugerir abordagem considerada radical pelo produtor Harry Saltzman.
Com oportunidades diminuindo no Reino Unido, Stamp passou temporadas na Itália, trabalhando com Pier Paolo Pasolini e Federico Fellini. Já no início dos anos 1970, sentiu-se fora de moda aos 31 anos e embarcou em viagem pelo Oriente. Enquanto praticava ioga em um retiro na Índia, recebeu convite para viver o vilão General Zod em “Superman” (1978). O sucesso do filme e de sua continuação, “Superman II” (1980), reposicionou o ator em Hollywood, agora como antagonista de destaque.

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A década de 1980 trouxe participações em gêneros diversos, incluindo o faroeste “Jovens Pistoleiros” e o thriller “The Company of Wolves”. Em 1994, surpreendeu público e crítica ao interpretar Bernadette Bassenger em “Priscilla – A Rainha do Deserto”, desempenho que lhe garantiu indicação ao Globo de Ouro. Stamp contou ter inicialmente recusado a proposta, mas foi convencido por uma amiga a aceitar o desafio.
Nos anos seguintes, registrou presença em “Star Wars: Episódio I – A Ameaça Fantasma” (1999), classificando a experiência como “entediante”, e em “O Segredo de Limehouse” (1999), no qual viveu um criminoso em busca da filha. Em 2013, recebeu indicação ao Bafta pelo drama “Canção para Marion”.
Stamp se casou apenas uma vez, em 2002, com Elizabeth O’Rourke, 35 anos mais nova, união encerrada em 2008. O ator seguia ativo; entre suas últimas aparições está o suspense “Noite Passada em Soho” (2021). Um projeto de continuação de “Priscilla” estava em desenvolvimento.
Reconhecido por “dominar o silêncio carregado”, como descreveu a imprensa britânica, Terence Stamp deixa legado marcado pela capacidade de reinvenção. Da estreia meteórica em “Billy Budd” ao inesquecível “Ajoelhe-se perante Zod”, sua trajetória reflete a evolução do cinema nas últimas seis décadas.