Travessias pelo Canal da Mancha ultrapassam 50 mil desde a posse do governo trabalhista

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O número de pessoas que cruzaram o Canal da Mancha em pequenas embarcações desde a posse do governo trabalhista, em 5 de julho do ano passado, atingiu a marca de 50 mil na segunda-feira, 11 de agosto. Dados preliminares do Ministério do Interior britânico apontavam 49.797 travessias até domingo; a atualização de segunda adicionou as ocorrências necessárias para alcançar o novo patamar.

A cifra coloca pressão sobre a administração de Sir Keir Starmer, que assumiu o compromisso de reduzir a atuação de quadrilhas de tráfico de pessoas. A ministra do Interior, baronesa Smith, classificou o total como “inaceitável”, mas afirmou que a política piloto de “um para lá, um para cá” — na qual o Reino Unido devolve à França o mesmo número de migrantes que receberá com direito reconhecido a asilo — servirá como fator de dissuasão.

De acordo com fontes do governo, algumas dezenas de migrantes já foram detidas com base no novo acordo bilateral, embora não tenham sido divulgados números específicos. As primeiras devoluções estão previstas para ocorrer nas próximas semanas, inicialmente em volume reduzido.

A comparação anual evidencia o salto das travessias. Entre 5 de julho de 2023 e 11 de agosto de 2024, 36.346 pessoas fizeram a travessia em pequenas embarcações — pouco mais de 13 mil a menos que o total registrado no período equivalente iniciado em 2024, sob a liderança trabalhista. Autoridades ressaltam, contudo, que o Canal apresentou mais dias de tempo calmo e temperaturas amenas no início deste ano, circunstância que favorece as viagens irregulares.

Parlamentares conservadores acusam o governo de ter “entregue as fronteiras” e afirmam que o país vive “a pior crise de imigração ilegal da história”. O secretário-sombra para o Interior, Chris Philp, defende a remoção imediata de todos que chegam sem autorização, classificando as operações marítimas de resgate como um “serviço de balsa financiado pelo contribuinte”. Nigel Farage, líder do Reform UK, declarou que o volume de chegadas confirma a necessidade de deportações em larga escala.

A oposição trabalhista rebate as críticas lembrando que já houve períodos de 403 dias, sob governo conservador, com número semelhante de travessias. Entre 8 de outubro de 2021 e 14 de novembro de 2022, foram registradas 53.587 chegadas por pequenas embarcações.

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Imagem: bbc.com

No âmbito legislativo, o governo aposta no Projeto de Lei de Segurança de Fronteira, Asilo e Imigração para ampliar ferramentas de combate às quadrilhas. A proposta, atualmente em tramitação, prevê poder adicional para a polícia e para a Agência Nacional do Crime, além de penas de até cinco anos de prisão para quem anunciar serviços de travessia ilegal pela internet. Outras medidas incluem o endurecimento contra trabalho irregular e a aceleração da deportação de estrangeiros condenados.

Entidades da sociedade civil insistem em soluções mais amplas. Enver Solomon, diretor-executivo do Conselho de Refugiados, argumenta que muitos solicitantes de asilo fogem de conflitos intensos — como a guerra no Sudão — e só recorrem às rotas perigosas por falta de alternativas seguras. Para a organização, a abertura de vias legais, entre elas a reunificação familiar, seria decisiva para esvaziar o mercado das redes criminosas.

O Ministério do Interior afirma que não existe “solução milagrosa” para reduzir rapidamente os números, mas sustenta que o conjunto das medidas — do acordo de devolução ao aumento do efetivo de investigação — formará uma estratégia abrangente. Apesar disso, auxiliares do governo reconhecem que o marco de 50 mil travessias é politicamente sensível, pois contrasta com a promessa eleitoral de “desmantelar” as gangues.

Até que o projeto de lei seja aprovado e o plano com a França entre em operação plena, as autoridades preveem que as travessias continuarão ocorrendo em patamares elevados. A avaliação interna é de que só uma combinação de repressão às redes, processos de asilo mais céleres e rotas legais de entrada poderá provocar queda consistente nos índices observados no Canal da Mancha.

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