Washington (EUA) – Horas antes de receber Volodymyr Zelensky na Casa Branca, o ex-presidente norte-americano Donald Trump afirmou que o líder ucraniano poderia encerrar a guerra com a Rússia “quase imediatamente”, desde que aceitasse dois pontos: a Ucrânia não ingressaria na Otan e abriria mão de recuperar a Crimeia, anexada por Moscou em 2014.
As declarações foram publicadas na noite de domingo na rede Truth Social, dois dias depois da reunião de Trump com Vladimir Putin no Alasca. Naquele encontro, o republicano retirou a exigência de cessar-fogo imediato e passou a defender um acordo de paz permanente. Segundo Trump, “algumas coisas nunca mudam”, como a posse russa da Crimeia e a oposição a que Kiev integre a aliança militar ocidental.
Encontro na Casa Branca
Zelensky desembarcou nos Estados Unidos no fim de domingo e, em mensagem nas redes sociais, agradeceu o convite. O presidente reiterou a necessidade de “garantias de segurança eficazes” dos aliados, lembrando que compromissos assumidos em 1994 não impediram a ofensiva russa. “A Crimeia não deveria ter sido cedida naquele momento, assim como não entregamos Kyiv, Odesa ou Kharkiv em 2022”, escreveu.
Participam da reunião desta segunda-feira, além de Zelensky, diversos chefes de Estado e de governo europeus: o primeiro-ministro britânico Keir Starmer, o presidente francês Emmanuel Macron, a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, o chanceler alemão Friedrich Merz, o presidente finlandês Alexander Stubb e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, também estará presente. Trump comentou que “nunca tantos líderes europeus estiveram juntos na Casa Branca ao mesmo tempo”.
Proposta de pacto de segurança
No domingo, o enviado norte-americano Steve Witkoff declarou à emissora CNN que Putin aceitou negociar “garantias robustas” para a Ucrânia, comparáveis ao Artigo 5 da Otan, que obriga a defesa coletiva dos membros da aliança. A fórmula surgiria como alternativa à adesão formal, assunto que Moscou rejeita desde 2008. Witkoff acrescentou que a Rússia teria feito “algumas concessões” em cinco regiões disputadas, sem detalhes sobre fronteiras específicas.
Em conversas posteriores com parceiros europeus, Trump relatou que Putin mantém a exigência de controle das províncias de Donetsk e Luhansk, que formam o Donbas, no leste ucraniano. Zelensky, entretanto, lembrou em cúpula virtual no domingo que a Constituição de seu país impede a cessão de território e que qualquer decisão deve ser tomada apenas em encontro trilateral entre Ucrânia, Rússia e Estados Unidos.
Preocupação europeia e histórico de tensão
Diplomatas do continente veem a reunião de Washington como crucial e sem precedentes, dado o curto prazo para organizar a viagem durante um conflito ativo. Há receio de que Trump pressione Zelensky a aceitar termos que incluam renúncia territorial. Em 2022, uma visita do líder ucraniano terminou abruptamente após discussão com Trump e o então vice-presidente JD Vance, episódio que deteriorou as relações bilaterais.

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Desde então, governos europeus atuaram para reaproximar as partes. Kiev firmou, em abril, acordo mineral que concedeu participação financeira norte-americana em projetos ucranianos e sinalizou disposição para pagar por armamentos. Em junho, Trump e Zelensky tiveram conversa telefônica descrita pelo ucraniano como “a melhor até agora”.
Apesar desses avanços, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, alertou no domingo que um desfecho rápido é improvável. Ele classificou como “narrativa estúpida” a ideia de que Zelensky será coagido, mas reconheceu que “ainda estamos longe” de encerrar a guerra, que completou dois anos de invasão em grande escala e já deixou quase um quinto do território ucraniano sob ocupação russa.
Enquanto negociações prosseguem, forças russas mantêm progressão no campo de batalha. Paralelamente, líderes do chamado “coalizão disposta” – grupo de países que prometem proteger a paz futura na Ucrânia – declararam após reunião virtual que apresentarão frente unificada em Washington. Segundo Macron, o objetivo é convencer Trump de que qualquer acordo deve incluir garantias de segurança sólidas e respeito à integridade ucraniana.
A agenda desta segunda-feira, portanto, determinará se as condições impostas por Trump – fim da aspiração à Otan e reconhecimento da Crimeia russa – avançarão ou se aliados conseguirão preservar as linhas vermelhas estabelecidas por Kiev. Até que um entendimento seja alcançado, a perspectiva de encerrar o maior conflito armado europeu desde 1945 permanece incerta.