Trump muda estratégia e quer que Ucrânia aceite acordo de paz direto com a Rússia

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sinalizou uma alteração significativa na sua postura em relação ao conflito entre Rússia e Ucrânia. Após a cúpula de sexta-feira com o presidente russo, Vladimir Putin, no Alasca, Trump afirmou na rede Truth Social que pretende pular a etapa de um cessar-fogo temporário e avançar diretamente para um acordo de paz permanente, alegando que tréguas “costumam não se manter”.

A posição contrasta com declarações feitas pelo próprio chefe da Casa Branca poucos dias antes do encontro, quando ele defendia um cessar-fogo “rápido” como primeiro passo para negociações mais amplas. A mudança gerou preocupação em Kiev e entre governos europeus que temem pressão sobre a Ucrânia para aceitar condições discutidas entre Washington e Moscou.

Em telefonema realizado logo após a cúpula, Trump informou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, sobre uma proposta apresentada por Putin. Segundo fontes diplomáticas, o plano prevê a retirada das forças ucranianas da região de Donetsk, no Donbas, em troca de um congelamento das linhas de frente em Zaporizhzhia e Kherson, áreas parcialmente controladas pela Rússia desde a invasão em larga escala iniciada em 2022. O mandatário norte-americano já havia declarado que qualquer acordo final implicaria “alguma troca de territórios”.

Zelensky, porém, reiterou recentemente que não aceita ceder o Donbas, argumentando que a concessão poderia servir de base para ofensivas futuras de Moscou. Em mensagem publicada na plataforma X, o líder ucraniano afirmou que a recusa russa em determinar quando cessará os ataques “complica a situação”. Ele reforçou a necessidade de um “cessar imediato do fogo” e listou condições para “uma paz verdadeiramente sustentável e confiável”, entre elas garantias de segurança credíveis e a devolução de crianças que, segundo Kiev, foram retiradas de áreas ocupadas.

Reportagem da rede norte-americana CBS indicou que diplomatas europeus estão apreensivos com a possibilidade de Trump pressionar Zelensky, que chega a Washington na segunda-feira, a aceitar termos alinhados à oferta de Putin. Durante ligação recente com líderes europeus, o presidente dos EUA teria mencionado “algumas concessões” do Kremlin, sem detalhá-las.

No contexto internacional, governos da França, Alemanha e Comissão Europeia divulgaram nota conjunta defendendo que “o próximo passo” inclua negociações com participação direta de Zelensky e ofereceram apoio a uma cúpula trilateral. “Cabe à Ucrânia tomar decisões sobre seu território; fronteiras não podem ser alteradas pela força”, declararam. O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, elogiou os esforços de Trump e reconheceu “progresso”, mas enfatizou que o caminho para a paz “não pode ser decidido sem o presidente ucraniano”.

Internamente, a reação em Kiev foi de apreensão. Moradores relataram desconforto com as imagens cerimoniais do encontro entre Trump e Putin, classificadas por alguns como “opressivas” diante da continuidade dos combates no leste ucraniano. Apesar disso, o governo de Zelensky mantém interação com a chamada “coalizão dos dispostos” — grupo formado por Reino Unido, França, Alemanha e outros países que prometeram intensificar o apoio militar e financeiro a Kiev. Representantes dessa aliança marcaram videoconferência para domingo, véspera da visita do presidente ucraniano à Casa Branca.

Do lado russo, Putin qualificou a reunião no Alasca como “muito útil” e disse ter apresentado a Trump a visão de Moscou sobre “as causas fundamentais da crise”. O vice-representante permanente da Rússia na ONU, Dmitry Polyanskiy, declarou à BBC que o encontro serve como “bloco de construção importante” rumo ao encerramento da guerra, mas não confirmou se haverá reunião direta entre Putin e Zelensky.

A ofensiva russa já dura mais de dois anos e sucede à anexação da Crimeia em 2014. Atualmente, Moscou controla a maior parte de Luhansk e cerca de 70% de Donetsk, regiões que compõem o Donbas e que o Kremlin reivindica como território próprio. Enquanto o front permanece ativo, o debate internacional se concentra em como viabilizar um acordo que interrompa a violência sem comprometer a integridade territorial da Ucrânia.

A agenda imediata inclui o encontro de Zelensky com Trump em Washington. Observadores esperam que a reunião esclareça até que ponto a Casa Branca pretende incentivar Kiev a aceitar propostas que envolvam ajustes de fronteira ou se insistirá em garantias de segurança e mecanismos de monitoramento que assegurem a efetividade de qualquer pacto assinado.

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