Vazamento expõe dados de até 3,7 mil afegãos reassentados no Reino Unido

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Até 3.700 afegãos transferidos para o Reino Unido tiveram informações pessoais potencialmente comprometidas depois que um subcontratado do Ministério da Defesa britânico (MoD) foi alvo de incidente cibernético. A exposição ocorreu na Inflite The Jet Centre, empresa responsável pelo serviço de solo de voos no aeroporto de Stansted, em Londres.

Segundo o MoD, mensagens de e-mail da companhia foram acessadas de forma não autorizada, revelando nomes, números de passaporte, datas de nascimento e registros do programa Afghan Relocations and Assistance Policy (Arap). O governo afirma que, até agora, não há indícios de divulgação pública do material nem de ameaça direta à segurança dos afetados ou dos sistemas governamentais.

As pessoas possivelmente atingidas viajaram ao Reino Unido entre janeiro e março de 2024, no âmbito do Arap, iniciativa que garante reassentamento a afegãos que colaboraram com as forças britânicas ou com o governo do Reino Unido. Além dos civis, a lista inclui militares britânicos e ex-ministros conservadores, de acordo com informações obtidas pela imprensa.

A equipe responsável pelo reassentamento enviou e-mail de notificação na sexta-feira, alertando famílias sobre a quebra de sigilo e detalhando que os dados expostos podem abranger passaportes e números de referência do Arap. O texto ressalta que as autoridades estão adotando medidas de precaução e monitoramento.

Em nota, um porta-voz do governo declarou que a proteção de dados é tratada com a “máxima seriedade” e que todos os indivíduos potencialmente afetados estão sendo informados, ainda que a legislação não exigisse abrangência tão ampla. A Inflite The Jet Centre, por sua vez, afirmou acreditar que o incidente se restringiu às contas de e-mail e já foi comunicado ao Information Commissioner’s Office (ICO), responsável pela fiscalização de proteção de dados no Reino Unido. O órgão confirmou o recebimento do relatório.

Entidades que acompanham o reassentamento manifestaram preocupação. A Sulha Alliance, ONG que presta apoio a intérpretes e outros afegãos que atuaram ao lado do Exército britânico, classificou o vazamento como “surpreendente” e pediu que o MoD acelere a análise dos pedidos pendentes para reduzir riscos adicionais.

Este não é o primeiro episódio de exposição de dados envolvendo o Arap. Em fevereiro de 2022, quase 19 mil solicitantes tiveram nomes, contatos e informações familiares liberados inadvertidamente por um funcionário britânico. O caso só veio a público em julho deste ano e levou à realocação sigilosa de centenas de afegãos temendo represálias do Talibã.

Entre os prejudicados pelo vazamento anterior está a família de um ex-membro das forças especiais afegãs conhecidas como “Triples”, que trabalhavam em parceria com tropas do Reino Unido. O grupo se refugiou no Paquistão enquanto aguardava a decisão sobre o pedido de reassentamento endossado pelo MoD, mas enfrentou risco de deportação após ação das autoridades paquistanesas em um hotel de Islamabad. O pai acabou deportado de volta ao Afeganistão; familiares relatam à imprensa que temem por sua vida.

O Ministério da Defesa declarou que continua a cumprir compromissos com todos os candidatos elegíveis que superarem as verificações de segurança exigidas para entrada no país, mas reconhece que alguns pedidos são rejeitados nesses procedimentos.

Especialistas e políticos avaliaram as duas ocorrências como prejudiciais à credibilidade do governo. O ex-assessor de Segurança Nacional Sir Mark Lyall Grant considerou os vazamentos “profundamente constrangedores” e defendeu maior agilidade na proteção de pessoas ameaçadas pelo Talibã. O ex-ministro das Finanças Kwasi Kwarteng descreveu o episódio como muito sério. Já a porta-voz de Defesa do Partido Liberal Democrata, Helen Maguire, acusou o governo de “incompetência” e reivindicou investigação independente imediata sobre os padrões de segurança.

Embora o MoD sustente que não existem provas de divulgação pública dos arquivos, o incidente amplia as pressões para revisão dos protocolos de cibersegurança e para avanço mais rápido no reassentamento de afegãos em situação vulnerável.

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