A administração de Washington, distrito federal dos Estados Unidos, entrou na Justiça para tentar anular a decisão da procuradora-geral norte-americana, Pam Bondi, que colocou o diretor da Drug Enforcement Administration (DEA), Terry Cole, no comando emergencial da Polícia Metropolitana (MPD). Na ação, o procurador-geral distrital, Brian Schwalb, afirma que o governo federal “excedeu” a autoridade temporária prevista em lei e assumiu ilegalmente o controle da força policial local.
O pedido, protocolado em tribunal federal, solicita que um juiz invalide a ordem de Bondi e impeça Cole de exercer qualquer função de comando na corporação. O processo foi distribuído para a juíza Ana Reyes, indicada em 2023 pelo então presidente Joe Biden. Até o momento não há data marcada para audiências, e o Departamento de Justiça declarou não ter comentários sobre o litígio.
A controvérsia teve início na segunda-feira, quando o presidente Donald Trump anunciou que utilizaria agentes federais para reforçar o combate ao crime em Washington. Para justificar a medida, o chefe do Executivo citou o Home Rule Act, legislação da década de 1970 que autoriza o uso da MPD em “propósitos federais” considerados “necessários e apropriados”. Desde então, centenas de militares da Guarda Nacional e diversos agentes de órgãos federais foram deslocados para a capital com a missão de desocupar acampamentos de sem-teto, instalar pontos de controle viário e patrulhar áreas turísticas.
Dois dias depois do anúncio presidencial, Bondi assinou ordem que concede a Cole “todos os poderes e deveres” atribuídos à chefe de polícia local, Pamela Smith. O documento determina que qualquer nova diretriz emitida por Smith dependa de autorização prévia do novo comissário emergencial. Em resposta imediata, a prefeita Muriel Bowser e o procurador distrital classificaram a medida como “ilegal” e orientaram a comandante a desconsiderar a instrução federal.
Nas últimas 48 horas, veículos blindados foram posicionados nas proximidades de monumentos históricos, motoristas passaram a ser revistados em corredores de vida noturna e o número de uniformizados nas ruas aumentou visivelmente. Segundo estimativas oficiais, o contingente deve chegar a 800 integrantes da Guarda Nacional e a 500 agentes federais, incluindo quadros do FBI.

Imagem: bbc.com
Bowser, filiada ao Partido Democrata, sustenta que não existe emergência de segurança pública que justifique a intervenção. Para a prefeita, a iniciativa é “desnecessária, sem precedentes” e representa um impulso autoritário do governo central. Analistas indicam que Trump seria o primeiro presidente a federalizar a MPD desde a criação da corporação, embora precedentes menos amplos existam. Em 1989, o então presidente George H. W. Bush enviou cerca de 200 militares para apoiar a polícia em meio ao auge da epidemia de crack, sem autorização para atuar em patrulhamento. Em 2020, tropas foram mobilizadas para conter protestos após o assassinato de George Floyd e, no início de 2021, para proteger o Capitólio depois da invasão de 6 de janeiro.
Em entrevista ao canal Fox News, Bondi relatou que, somente nesta semana, agentes federais efetuaram 156 prisões e apreenderam 27 armas na capital. O presidente Trump, por sua vez, tem afirmado que a criminalidade em Washington piorou. Dados oficiais da MPD analisados pela BBC Verify, contudo, apontam trajetória oposta: os crimes violentos caíram depois de atingirem pico em 2023, registraram em 2024 o nível mais baixo em três décadas e continuam em declínio preliminar em 2025. Segundo a polícia, a violência diminuiu 26% no acumulado deste ano em relação ao mesmo período de 2024, enquanto os roubos recuaram 28%.
Além da operação em Washington, Trump recorreu recentemente à Guarda Nacional em Los Angeles, onde manifestações contrárias a ações de deportação do Serviço de Imigração e Alfândega provocaram atos de rua. Até que a Justiça decida sobre o pedido de anulação da ordem federal, a disputa pelo controle da MPD deve prosseguir, ampliando o conflito entre autoridades locais e a Casa Branca sobre a gestão da segurança pública na capital norte-americana.